3.3.22

Rússia / Ucrânia - 3 – “Devem ouvir-se igualmente ambas as partes” – (Demóstones, in Oração da Coroa, 330 a.c.)


Por C. B. Esperança

Não, não estou com os invasores contra os invadidos, no Iraque ou na Ucrânia, onde os mais fracos foram invadidos pelos mais fortes, e lutarei contra o unanimismo vesgo que nos conduziu à censura e ao histerismo belicista.

Os media parecem-se, cada vez mais, com os da ditadura salazarista, o Sr. Milhazes é o Ferreira da Costa, «Aqui, Luanda, rádio Moscovo não fala verdade», e JRS, o Artur Agostinho a anunciar eufórico a voz do dono «Portugueses, temos o Santa Maria entre nós».

Depois de termos esquecido que «os sinos da velha Goa e as bombardas de Diu serão sempre portugueses», assistimos à propaganda que esmaga as vozes discordantes. É o maior ataque à liberdade de expressão depois do derrube da ditadura fascista.

A invasão da Ucrânia foi uma condenável e condenada tragédia, e o unanimismo da UE uma desgraça. Do R.U., Boris Johnson comanda a histeria belicista que fez esquecer as traquinices lúdicas, que o afastariam do cargo. Da União Europeia, onde sou federalista convicto, ainda agora, esperava a moderação do não alinhamento acéfalo com interesses do complexo militar-industrial dos EUA. Esperança baldada.

A Ucrânia nasceu onde a História a condena a fronteiras de geografia variável, com um governo que, à semelhança de todos os países que sofreram a violência soviética, Rússia incluída, exacerba o nacionalismo, com o racismo, homofobia e russofobia a porem em causa os direitos humanos.

Quando a liberdade de expressão é seriamente condicionada, a verdade única imposta, e a defesa da guerra passa a opção legítima, urge defender a Paz, e dizer Não.

Defenderei o aprofundamento económico, social e político da UE, sem o qual se esvazia a democracia, sem trocar a liberdade de expressão e o pluralismo por qualquer amanhã, por mais musical que se apresente, ou pela liberdade de esmagar os mais fracos.

Combater o pensamento único é uma manifestação de cidadania, uma questão de honra, a exigência democrática que obriga à defesa dos adversários. A ditadura devia ter sido uma vacina eficaz e sem prazo de validade. E não foi, como se vê.

Fiel aos valores da democracia representativa e ao seu aprofundamento, recuso modelos caducados e as utopias que inspiram. O século XX deu-nos as democracias e as tiranias, e produziu os mais obscuros sistemas e as mais tenebrosas abjeções.

Não avalizo aventuras totalitárias, seja qual for o pretexto, venham de onde vierem. Num momento de comoção seletiva, ao serviço da agenda belicista da Nato, gritarei «Sim à Paz, Não à Guerra», sem esquecer o povo mártir da Ucrânia. 

Deixo, para reflexão, a advertência de Mário Soares, em 11 de setembro de 2008.

Ponte Europa / Sorumbático

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