26.2.21

O GRANDE AMANHÃ

 Por Joaquim Letria

Um jornalista ocidental perguntou certa vez a Deng Xiao-ping quais, em seu entender, tinham sido os efeitos da Revolução Francesa sobre o pensamento europeu. O velho líder chinês respondeu:

— Ainda é cedo para o sabermos.

De uma crise como esta que vivemos actualmente não se sai sem um grande acordo social, no qual os principais interlocutores – empresários, trabalhadores e administração pública – cedam conscientemente nas suas posições de princípio até encontrarem um mínimo denominador comum que permita a recuperação, o bem estar e, por fim, o desenvolvimento.

Perdidos no meio de tanta teoria, sujeitos a tantos especialistas tombados sobre mapas e gráficos de tanta estatística, números frios e inertes, jaz o drama de muitos milhões de pessoas, verdadeira vala comum de sonhos desfeitos.

Muito pouca desta gente a quem pertencemos saberá o que é o PIB ou o défice comercial e quase ninguém será capaz de explicar o que é a balança de transacções correntes.

Sobrevive-se numa sociedade desprendida e sem solidariedade em que ninguém quer repartir o que há, de forma a que algo chegue para os que nada têm. Só um grande debate poderá levar-nos ao acordo necessário. Deixando cada um de fora as malas da demagogia, impõe-se a honestidade de remeter cada discurso para a crueldade dos factos.

O homem de hoje tem de se reconhecer provisório. Como dizia Karl Marx, diante de nós tudo se volatiliza, tudo o que é sólido se pulveriza no ar. Finitos como somos, reinventamo-nos sem cessar.

Este é um debate que devíamos travar com serenidade e a duas dimensões. A do dia a dia de hoje e a do grande amanhã.

Publicado no Minho Digital

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Muitos parabéns por este texto, Joaquim Letria. De pequena extensão, mas infinito na ideia de solidariedade e muito profundo na noção de afecto, de que não podemos prescindir. Obrigado. Um abraço.

26 de fevereiro de 2021 às 19:11  

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