A sugestão de Nuno Crato
Um Passeio pela História da Física
HÁ livros que cativam o leitor desde as primeiras páginas. «Cinco Equações que Mudaram o Mundo», de Harvard Michael Guillen, é um desses. E há livros que deixam o leitor mais rico, com a consciência de se ter enriquecido com uma visão mais profunda da ciência e da história.
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Há livros que cativam o leitor desde as primeiras páginas. Cinco Equações que Mudaram o Mundo, do físico e professor de Harvard Michael Guillen, é um desses livros. E há livros que deixam o leitor mais rico, com a consciência de se ter enriquecido com uma visão mais profunda da ciência e da história. A obra de Guillen que a Gradiva agora editou é uma dessas obras.
O plano de Cinco Equações é simples e eficaz. O autor concentra-se em cinco etapas fundamentais da física: a gravitação de Newton, a lei da pressão hidrodinâmica de Bernouilli, a indução electromagnética de Faraday, a segunda lei da termodinâmica de Clausius e a relatividade restrita de Einstein. Em cada caso descreve a personalidade da figura central, explica um pouco a sua história pessoal e o seu percurso científico, para se centrar numa e numa só conquista científica, que se sintetiza numa equação tão simples quanto revolucionária. As cinco partes deste livro podem ser lidas autonomamente, pois cada uma delas é uma história completa. Mas poucos leitores haverá que não sejam seduzidos pela prosa clara de Guillen e que não queiram lê-lo do princípio ao fim. Se há um aspecto que ressalta neste livro ele pode sintetizar-se em poucos palavras: é um livro muitíssimo bem escrito.
Há muitos cientistas divulgadores que são, ao mesmo tempo, prosadores de grande qualidade. Carl Sagan, John Barrow, Stephen Jay Gould, Stephen Weinberg e tantos outros que nos ajudam a ter uma ideia dos desenvolvimentos científicos contemporâneos são prosadores de elevado calibre, que sabem organizar com clareza as suas ideias e que sabem conduzir-nos por caminhos onde certamente o leitor não especialista se perderia sem um guia qualificado. É interessante como esses autores, cientistas e pensadores de primeira água, têm a preocupação de tornar simples ideias complexas e de tornar atraentes temas que, apresentados por outros, seriam certamente muito áridos. Com esta obra — e, também, com Pontes para o Infinito, já conhecido do público português — Michael Guillen junta-se a esse grupo distinto.
Os temas de Cinco Equações não são temas polémicos, nem os desenvolvimentos científicos aí referidos são desenvolvimentos actuais. O livro debruça-se sobre conquistas já clássicas da ciência. Isso permite ao autor tornar a exposição ainda mais clara. Michael Guillen teve a arte de escolher cinco leis físicas que podem ser compreendidos por todos, mesmo os que estejam esquecidos da física do liceu ou os que nunca a tenham estudado. O tratamento matemático é mínimo e, quando aparecem equações, elas são explicadas tão claramente que qualquer leitor as pode perceber. A exposição é tão simples que um jovem de dez ou doze anos, com algum interesse pela ciência ou, apenas, pela leitura de ficção, é um leitor potencial deste livro. Para o leitor, é também interessante e recompensador ver discutido o processo de derivação das equações que traduzem as leis físicas. É interessante e surpreendente ver como equações aparentemente misteriosas, como a da atracção gravitacional de Newton ou a da equivalência entre a massa e a energia de Einstein, são equações que nascem a partir de ideias que, uma vez formuladas, são ideias muito simples. O leitor ficará certamente a apreciar o poder revolucionário que as ideias simples podem conter.
Uma palavra para a tradução e a edição. Embora num ou noutro pormenor se possa discordar da tradução, ela é fluente, sem muitos dos erros irritantes que é frequente encontrar em traduções menos cuidadas. Apenas se não compreende a omissão do índice remissivo, presente na edição original. A edição é também cuidada e atractiva, contribuindo para uma leitura agradável daquele que é um dos mais interessantes livros de divulgação científica actualmente presentes no mercado português.
(Texto de Nuno Crato, adaptado do «Expresso»)
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