15.8.05

Que raio de contas!

ESTES ovos fizeram-me lembrar a história da mulher que tinha uma galinha e que, quando teve de se ausentar por uns dias, disse ao filho que escrevesse na casca quando é que os ovos tinham sido postos.

Quando chegou, em todos estava escrito «HOJE».

O número de ovos que se vêem nesta imagem é: mais-de-dois

Mas também me fizeram recordar a anedota da outra que, um dia, emprestou três ovos a uma vizinha.

Esta, dias mais tarde, trouxe-lhe apenas dois.

Perante a reclamação, desculpou-se:

- Ai, vizinha! Enganei-me a contar!

Esta última rábula para criancinhas vem a propósito da infantilidade de António Costa quando nos disse (e repetiu) que Sócrates lhe havia telefonado «Mais de duas vezes» e que ele lhe respondera, também, «Por mais de duas vezes que...»

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O Editorial do «DN» gozava também com isso, dizendo que Sócrates havia telefonado «entre duas vezes e três».

Parece o rapazinho que, quando fez 20 anos (e querendo ser mais velho), dizia que tinha, de idade, «várias dezenas de anos»

15 de agosto de 2005 às 17:37  
Anonymous Anónimo said...

Àcerca de António Costa, mais de duas e de chamar os boys pelos nomes...

Não sei bem se será mesmo um problema de infantilidade... cá pra mim é estupidez nua e crua .

Lily of the Valley

16 de agosto de 2005 às 10:18  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Durante uns bons 30 anos tive obras sob a minha responsabilidade.
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Ora, como elas não paravam durante as minhas férias, era certo-e-sabido que tinha telefonemas a interrompê-las, mais cedo ou mais tarde.
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É claro que isso sucedeu "mais de duas vezes" (para usar a terminologia tonta de A. Costa), mas não passava pela cabeça de ninguém que os meus subordinados fossem dizer ao Director (ou aos clientes) que eles tinham decidido que não era preciso eu interromper as férias!

16 de agosto de 2005 às 13:33  
Anonymous Anónimo said...

Um saboroso texto de Vasco Graça Moura no «DN» de hoje:

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A expressão "por mais de uma vez" ou "mais de uma vez" não compromete. É discretamente enfática e deixa indeterminado o número concreto de vezes a que se refere. Diferentemente, a expressão "mais de duas vezes", duas, proferida num contexto público como aquele em que António Costa a usou, significa precisamente "três vezes", três.

Para demonstrar a profunda preocupação, a desvelada solicitude e a acrisolada solidariedade com que o primeiro-ministro acompanhava a destruição total pelo fogo de uma parte do País, lá do fundo do seu safari, se eles tivessem falado ao menos quatro vezes, quatro, nessa ígnea complicação, António Costa teria dito, sem qualquer sombra de dúvida, que José Sócrates, pendurado no telefone e com a voz embargada a estorcegar-se em timbres de comoção e ansiedade, abordara o assunto com ele "mais de três vezes", três.

Assim, como António Costa tinha, por um lado, o problema de não mentir e, por outro, o desejo de salvar a imagem vilegiaturante de José Sócrates, recorreu ao eufemismo "mais de duas vezes", duas, e, tendo-o repetido ante as câmaras de televisão, podemos assentar em que o disse "mais de uma vez", uma.

É este o ponto exacto em que se articulam a questão da declaração de calamidade pública e a questão da tranquilidade placidamente sertaneja do primeiro-ministro, nos seus ademanes venatórios por entre os hipopótamos e as pacaças se o caso fosse havido como de calamidade pública, por bem mais de duas vezes, duas, o primeiro-ministro deveria ter pensado em não ir para férias e, por maioria de razão, por bem mais de duas vezes, duas, se teria visto forçado a vir imediatamente embora da savana.

Mas deixou-se ficar por cá, vai havendo mortos e feridos, vai havendo casas desfeitas e povoações evacuadas, vai havendo muitos haveres perdidos, vai havendo várias aldeias, vilas e lugares seriamente ameaçados, vai havendo faltas de água e luz, vai havendo terríveis carências logísticas devido à destruição dos equipamentos, vai havendo estradas cortadas, vai havendo colheitas irremediavelmente arruinadas, vai havendo um nono da área florestal portuguesa queimada, vai havendo os piores números da Europa nas estatísticas do fogo, mas o primeiro-ministro, como o bruto de Os Lusíadas (V, 28) e fiel a uma vocação atávica que deu novos mundos ao mundo e neste promoveu o espasmódico diálogo das culturas, a nada disto se moveu.

Limitou-se a perguntar por três vezes, três, como estavam as coisas e deve ter-lhe sido dito, também por três vezes, três, na voz convictamente colocada de António Costa, que Portugal continuava um país porreiro e que fizesse o favor de se deixar estar tranquilamente, procurando não amarrotar muito o seu elegante fato de caqui, a beber leite de coco à sombra dos imbondeiros ou mesmo, se assim o preferisse, a pentear macacos nos intervalos das andanças e dos solavancos do seu jipe.

Se José Manuel Durão Barroso ou Pedro Santana Lopes tivessem tido a lata de ir dar um mergulho, um só, ali para as Berlengas, enquanto os sinos repicassem a rebate por haver fogo numa bouça no Vimioso ou numa quintarola do Fundão, o que não teriam dito, em golfadas de incontida indignação, os socialistas e a comunicação social?

Simplesmente, em se tratando do Partido Socialista, tudo continua a bater impecavelmente certo no tocante ao número de vezes que se queira considerar mais de duas vezes, duas, Sócrates garantiu que não aumentaria os impostos, e viu--se; mais de duas vezes, duas, foi garantida a coesão do Governo e Campos e Cunha saltou logo em seguida; mais de duas vezes, duas, foi afirmada a garantia de que o Governo só se preocupava com a competência dos quadros, não querendo saber dos boys para nada, e continua a funcionar como prestimosa agência de empregos para amigalhaços e clientes; mais de duas vezes, duas, o dr. Soares se afirmou definitivamente arredado da vida política activa, e aí anda ele a mostrar-se pronto para as curvas; mais de duas vezes, duas, o empavonado dr. Lambisgóia se posicionou a favor de Manuel Alegre, e afinal não era assim a calamitosa criatura dá o seu férvido apoio ao dr. Mário Soares.

Tanto faz para o PS, mais de uma vez, mais de duas vezes ou qualquer outra formulação da mesma natureza, não significa absolutamente nada. É um tique de linguagem, um arreganho de gíria, uma propensão idiomática, uma maneira de fazer de conta, de o branco ser preto e de o preto ser branco.
--
http://dn.sapo.pt/2005/08/17/opiniao/mais_duas_vezes.html

17 de agosto de 2005 às 09:05  

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