3.9.05

A importância da posição do hífen

QUANDO alguém está em desacordo com Bush, não tarda muito que leve com o epíteto de anti-americano, como se uma coisa implicasse a outra. Mas, para reforçar a expressão, é costume juntarem-lhe o adjectivo primário.

Claro que ser-se um anti-americano primário é condenável; mas ser-se um anti americano-primário não é natural... e até desejável?!

6 Comments:

Blogger Helder Mendes said...

Comentário politicamente incorrecto e a resvalar para o bêábá do blocoesquerdismo: "Resta saber até que ponto "anti-americano" e "anti americano-primário" não serão equivalentes..."

3 de setembro de 2005 às 18:48  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Se não houvesse uma diferença (mesmo pequena), o adjectivo não era chamado a compor a frase. É, no entanto, mais uma questão semântica do que política.

Normalmente, a expressão «anti-americano» é usada num contexto de conflito como, p.ex. na frase:

«Os norte-vietnamitas eram combatentes anti-americanos».

A expressão «anti-americano primário» recorre ao adjectivo para caracterizar outro sentimento diferente, menos explicável:

Classifica o indivíduo que, p. ex., não compra electrodomésticos americanos nem anda em carros Made in Usa sem qualquer explicação racional.

Claro que os dois sentimentos andam próximos, e pode ser fácil saltar-se de um para o outro.

3 de setembro de 2005 às 19:11  
Anonymous Anónimo said...

Embora a diferença seja apenas de uma palavra (e, portanto, mais semântica do que política) o que está em causa pode ser mais complexo:

Uma pessoa, por motivos sociais, civilizacionais, religiosos, etc, pode ser «contra o modo de pensar, de viver e de agir do americano-médio». Está no seu pleno direito de odiar o rock, os blue-jeans, o capitalismo, o Mac Donalds, etc.

Nesse sentido, poderá ser «anti-americano» racionalmente.

Um «anti-americano-primário» será, por exemplo, um indivíduo que se alegra com a desgraça de Nova Orleans ou com o facto de uma velhota americana perder o gato ou partir uma perna.

*
Também há o inverso:

O americano-médio é naturalmente anti-comunista, podendo haver os que o são racionalmente e os que o são sem saberem do que falam:

Seriam os equivalentes (simétricos) "primários".

Duarte

3 de setembro de 2005 às 21:56  
Anonymous Anónimo said...

Por deveres profissionais, conheci de perto dezenas de Marroquinos, Argelinos e Tunisinos.

Eram técnicos, quase todos eles muçulmanos praticantes, e quase todos com curso superior.

Eram, em geral, "anti-americanos", no sentido em que achavam que o que a América propõe ao mundo é completamente contrário ao que eles pensam ser bom e correcto.

No entanto, nenhum deles se alegraria (nem de longe, garanto!) se, por exemplo, caísse um avião em que morressem americanos. Isso, sim, seria "anti-americanismo primário".

Pelo contrário, eles seriam os primeiros a socorrer.

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Encontrei o mesmo sentimento no Congo Brazzaville, em que tinha havido uma guerra civil.

Devido ao petróleo, estavam convencidos (e não deviam estar enganados...) que os americanos tinham financiado uma das facções e alimentado a guerra.

Nesse caso, também, o anti-americanismo tinha causas bem reais. Eu vi ao vivo o que foi a destruição TOTAL de metade da cidade.
Claro que, por lá, havia bastantes anti-americanos (mais ou menos "primários" e em todas as gradações possíveis!)

C.E.

3 de setembro de 2005 às 22:33  
Anonymous Anónimo said...

Anti-Americano primário:

Individuo que assume ser contra a América em geral simplesmente porque é da moda ou da praxe.

Anti Americano-primário:

Em todas as sociedades, em todos os países, existem indivíduos "primários". Ser anti (indígena)-primário é natural. Ninguém gosta de ter "primários" a governar(-nos), por exemplo, sejam eles Americanos, Portugueses ou outros.

4 de setembro de 2005 às 01:43  
Anonymous Anónimo said...

A reacção que a direita tuga, alegre e fresca, tem em relação aos que criticam Bush e os seus companheiros de estrada, insultando (basta ir ao Expresso On-Line)e chamando de anti-qualquer-coisa primário, é exactamente igual e simétrica à que tinha a esquerda tuga, intelectual e sabichona, quando se faziam os mesmos comentários sobre a URSS, Brezhnev e o PC. Ambas as tendências gostam imenso de insultar e tentar calar a oposição, e muitos acham que essa oposição devia ser enviada, manu-militari, para Guantanamo-Sibéria.
Um dos melhores exemplos da similitude destes dois grupinhos, vem da ex-Alemanha de Leste: muitos dos que eram apoiantes do SED, o PC local, agora votam e são apoiantes da extrema-direita. Muitos, os mais idosos, chegaram mesmo, nos idos de 40, a berrar o Heil da praxe.
Há gente que não consegue passar sem guias, pastores e messias, sejam eles russos, alemães ou texanos.
FJMMC

5 de setembro de 2005 às 08:21  

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