Se o homem fosse vivo...

NOS meus verdes-anos de engenheiro tive de fazer, numa central eléctrica, uns trabalhos relativamente fáceis.
Assim, peguei nos meus papéis e num electricista, e preparámo-nos para tratar do assunto no próprio local da obra (e não no gabinete, como devia ser) - eu iria fazendo a documentação, e ele tratando dos fios e dos parafusos.

Na realidade, nessa altura havia alguma tradição, na empresa, de se proceder dessa forma quando os trabalhos eram simples.

Por isso, imagine-se o meu embaraço quando o representante do Cliente (um engenheiro idoso e pouco dado a facilidades) me intimou:

- Ora mostre-me lá o projecto, s.f.f.

Expliquei-lhe então que «o projecto iria ser feito à medida que o trabalho fosse progredindo».

Mas ele - e muito bem - não foi na conversa, e dei por mim com grandes dificuldades para o acalmar quando ele, apopléctico, já gritava:

- Mas onde é que está o projecto?! Onde é que está a porcaria do projecto?!

Vem isto a propósito do facto de se saber que o Túnel do Marquês está, em parte, a ser feito da mesma forma.
O Metro quer ver o projecto (na parte em que a obra passa perto da sua área) e... bem... está a ser feito!

Não acredito que Carmona Rodrigues, como engenheiro que é, esteja de acordo com o processo, mas encontra-se na posição ingrata de ter de defender o que Santana Lopes decidiu, na medida em que, por acção ou omissão, foi «cúmplice» do antigo «chefe».

Entre muitas outras curiosidades, no frente-a-frente com Sá Fernandes (na SIC-N) viemos a saber que o facto de o referido túnel ter, numa grande extensão, um declive de 10% (superior ao da A5 quando se aproxima do viaduto Duarte Pacheco) não o preocupa.

Perante o que vai ser uma fonte de desastres (a que a Comunicação Social, a seu tempo, irá chamar "Acidentes"...), Carmona teve um argumento arrasador:

- Há muitas garagens cujas entradas têm uma inclinação semelhante - e passou à frente.