6.11.05

O outro super-Mário

ONTEM, no «Expresso-Economia», um articulista garantia (sem brincar, pareceu-me) que o trabalho dos jogadores de futebol não é trabalho, é diversão que, ainda por cima, é bem paga.

Ora, sendo trabalho uma actividade remunerada, penosa e útil (conforme aprendi, há muitos anos, na Faculdade), para o autor do texto a profissão de jogador de futebol não é penosa.

Então, e a propósito dessa ideia-feita, aqui fica um relato verídico:

COMO toda a rapaziada do meu tempo, uma das coisas que eu mais gostava de fazer era jogar à bola, actividade essa que tinha lugar, a maior parte das vezes, no pátio do meu prédio.

Ora, entre nós, havia um rapaz (o Mário) que jogava muito bem, pelo que era disputado por todos para ser companheiro de equipa... até ao dia em que foi "descoberto" por um empresário e passou a "jogar a sério" nos juvenis de um clube profissional - nessa altura, ainda ninguém se preocupava com trabalho-infantil!

Todos o invejámos (pensando como o senhor do artigo do «Expresso»): «o Mário vai passar o tempo todo a divertir-se, a jogar à bola... e ainda vai ser pago por isso!»

Mas não foi bem assim. A partir daí (quando o futebol passou a ser para ele uma obrigação), era vê-lo, aborrecidíssimo, a aparecer lá no pátio e suplicar-nos:

«Jogo ao que vocês quiserem - ao bilas, aos cowboys ou ao eixo. Mas à bola não, por favor! À bola não!!»
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