25.1.06

Espelho-meu, espelho-meu... (*)

QUANDO, um dia destes, Santana Lopes «apareceu à superfície», alguém disse, e muito certeiramente, que «ele ainda hoje não percebeu o que lhe aconteceu» - tal como parece suceder com os apoiantes mais chegados de Mário Soares quando comentam a sua derrota.

Infelizmente não são exemplos únicos pois, quer nesses casos quer em muitos outros semelhantes, «é de deitar as mãos à cabeça» como "eles" estão longe do que pensa o cidadão-comum.
Que bem faria essa gente se pudesse seguir o exemplo do califa Harun-al-Raschid, que se disfarçava de mercador e se misturava com os súbditos a fim de saber o que pensavam dele!

Actualmente, a maioria dos políticos parece «viver noutro mundo», nadando (e de costas!) numa espécie de sopa morna (existente algures numa realidade-paralela), e completamente isolados deste planeta e do cidadão-comum por uma multidão de assessores, militantes cegos, simpatizantes surdos e yes-men devotados.

Só pode ser essa a explicação para as cenas a que por vezes assistimos, como as do frente-a-frente Soares-Cavaco, ou a de Sócrates a interromper o discurso de Alegre («sem ter dado por isso»!); ou ainda as inúmeras rábulas e contra-rábulas que o governo de Santana Lopes protagonizava de-manhã-à-noite.

Palpita-me que, sem que nós saibamos, anda por aí alguém que conseguiu a patente do espelho da rainha da história da Branca-de-Neve...

(Desenho de Charles Santore)
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(*) Publicado no jornal «metro» em 27 Jan o6, com alguns cortes