A propósito de um herói anónimo
CLARO que estas situações são mais-do-que-dramáticas, mas isso não impede que refira aqui o que relatava o saudoso «Diário de Lisboa» depois de entrevistar um homem que salvou muitos que se queriam lançar do Viaduto Duarte Pacheco: tendo pouco que fazer, ele costumava andar por ali, de um lado para o outro... e às vezes deparava com suicidas que de imediato tentava salvar.
Garantia ele que «já os topava»... Aproximava-se então o mais que podia e, quando conseguia conversar com eles, lá arranjava artes de evitar o pior - pelo menos ali e nesse dia... Ficavam-lhe sempre muito gratos e, frequentemente, até lhe pagavam (com) um copo!
No entanto, a cena mais espantosa passou-se com um desesperado que já estava suspenso pelos dedos quando o benemérito chegou e o puxou com força.
Assim que se viu salvo, o outro virou-lhe as costas; e, enquanto se afastava, ia esfregando o braço e resmungando:
-Arre, que me aleijou!
3 Comments:
Tenho uma vaga ideia de ter lido isso que aqui conta, já há muito tempo. O CMR tem um GRANDE arquivo e/ou uma GRANDE memória!!
R.S.Neto
o mais engraçado é pensar: será que se "salva" alguém do suicidio?
porque se o objectivo de alguém é a morte, e alguém o priva de alcançar o seu fim, será que a seus olhos está a ser "salvo"? ou estarão apenas a prolongar-lhe a angústia?
é uma boa questão, mas admito que não conheço a(s) resposta(s)...
De facto, não sei se se poderá dizer "salvar" um suicida.
No entanto, o que me dizem é que, quando alguém é salvo in-extremis fica (pelo menos na altura...) satisfeito.
Quando alguém salta de um ponte e vai a meio da queda, se tiver um pára-quedas... abre-o.
Possivelmente, é a "amigdala" (um órgão responsável pelas acuações mais primitivas)que toma conta do cérebro e acciona o instinto de sobrevivência, sobrepondo-se ao desíginio consciente oposto.
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