24.1.06

Os resolve -"dores" (*)

O AUTOMÓVEL continua rei-e-senhor, em detrimento dos transportes públicos? «Vamos analisar esse problema!».

As armas da GNR e da PSP encravam quando são mais necessárias? «Vamos tratar de resolver o problema!».

Décadas de incúria ajudam a tarefa dos fogos na desertificação do país? «Vamos lá ver esse problema!».

Milhares de casas clandestinas ocupam abusivamente zonas protegidas e do domínio público? «Vamos então pensar nesse problema!».

E por aí fora, sem grandes variantes...

Sucede, no entanto, que o advérbio «DEPOIS», sempre implícito nestas situações, faz-me invariavelmente recordar uma história embaraçosa que comigo se passou:
"Normalmente, eu não sou voluntário para experiências,
mas sou uma espécie de maluquinho por puzzles"
.
EM TEMPOS que já lá vão, um administrador de uma empresa disse-me que pretendia contratar um gestor de obras e perguntou-me se eu conhecia alguém que estivesse disponível.
Depois de alguns contactos, consegui desencantar um colega que se mostrou interessado e que me apressei a recomendar recorrendo ao que - pensava eu...- era o melhor argumento em seu favor: «Ele é óptimo a resolver problemas!».

No entanto, e para minha grande surpresa, o meu interlocutor abanou a cabeça, sorriu, e, com uma paternal palmadinha no ombro, deu-me a seguinte resposta que nunca mais esquecerei:
«Obrigado, meu caro, mas eu não preciso de quem RESOLVA problemas; gente dessa há por aí aos pontapés. Eu preciso é de quem saiba ANTECIPÁ-LOS, para que não cheguem, sequer, a surgir».

E rematou, ao mesmo tempo que me estendia a mão, dando a conversa por encerrada: «Nunca se esqueça que, nos negócios - como na política - GERIR É PREVER».

Fiquei sem saber o que dizer, mas lembro-me sempre das suas palavras quando ouço pessoas a gabar-se de que são os melhores para resolver os problemas da empresa, do país, ou da autarquia.

Mas o certo é que, pensando bem, talvez estas tenham razão, pois uma empresa de consultadoria estrangeira concluiu, não há muito tempo, que «os gestores portugueses são muito bons a resolver os problemas que eles próprios criam»...
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(*) Publicado hoje no «Público-Local»

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este post vem mesmo a calhar com um problema que eu presidente de uma associação desportiva em Lisboa criei, quando se meteu-me na cabeça construir umas instalações desportivas e sociais num terreno cedido pela camara municipal de lisboa em direito de superficie por um periodo de 50 anos.
Só me faltava o projecto, ora como até me identifico com esta area, arranjámo-lo.
Depois era o dinheiro, arranjamos uma parceria.
Já só faltava o construtor o que não foi dificil.
Dificil tem sido arranjar quem saiba antecipar os problemas para que não cheguem, sequer, a surgir.

Nunca essa consultadoria estrangeira acertou tão em cheio quando conclui que os gestores portugueses neste caso a CML são muito bons a resolver problemas que eles proprios criam...

Acho eu, que quem se vai sair mal disto tudo ainda é a associação que eu represento, querem apostar...!!!

visitem www.bsjoao.com.pt

24 de janeiro de 2006 às 14:12  
Blogger Ant.º das Neves Castanho said...

Uma das frases mais sábias que conheço diz que todas as pessoas se podem classificar num dos três seguintes tipos: as que criam problemas, as que resolvem problemas e... as que previnem o seu aparecimento!

24 de janeiro de 2006 às 16:43  

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