13.2.06

A pedagogia de Kant (*)

AS MUITAS edições e reedições feita por ocasião dos 250 anos do Terramoto relembraram-nos o genial Kant (1724-1804) e o excêntrico Rousseau (1712-1778).

Rousseau
Enquanto o primeiro procurava perceber as causas dos tremores de terra e a maneira de coexistir com o risco, o segundo culpava a civilidade, dizendo que se não se construíssem prédios não haveria derrocadas. A polémica ficou particularmente colorida com as intervenções de Voltaire (1694-1778): «Jamais tanta inteligência foi usada para nos querer tornar animais», dizia este referindo-se a Rousseau.

Kant

Um livrinho de Immanuel Kant recentemente editado traz-nos uma outra faceta destas polémicas do século XVIII. Referimo-nos a Sobre a Pedagogia, que apareceu em tradução escorreita de João Tiago Proença sob a chancela da Alexandria. Não há melhor obra para se perceber que as ideias de Rousseau sobre educação, aparecidas no seu romance Émile de 1762, não eram partilhadas pela geração progressista das luzes. No caso de Kant, em muitos outros aspectos influenciado por Rousseau, as divergências são particularmente claras. Basta ler alguns extractos.

«É extremamente nocivo que a criança seja habituada a considerar tudo como jogo. Tem de haver tempo para recrear, mas também tem de haver tempo em que se trabalha. Ainda que a criança não vislumbre logo qual a utilidade de tal coacção: descobrirá no futuro o maior proveito disso.» (p. 49). «A questão aqui é: devem as regras preceder apenas em abstracto ou devem as regras ser aprendidas apenas depois de se ter feito uso delas? Ou devem as regras e uso andar a passo e passo? Só este último caso é de aconselhar.» (p. 49).

Quem tenha acompanhado os debates recentes sobre educação não poderá deixar de se espantar com a clarividência de Immanuel Kant.

(*) Crónica de Nuno Crato, adapt. do «Expresso-online»

Etiquetas:

1 Comments:

Blogger cãorafeiro said...

em relação ao rousseau, o que é giro é que ele teve 5 filhos, da criada, e foram todos parar à roda...

assim é fácil falar de educação.

13 de fevereiro de 2006 às 17:26  

Enviar um comentário

<< Home