UGA, UGA, PORTUGAL! (*)

É CHATO cognominá-los ‘Padeiros de Aljubarrota’, porque foi uma grande padeira que despachou e cozeu uma fornada de castelhanos no mais famoso forno de uma pátria à beira dos nove séculos de História. Haja respeito pelo ‘eterno feminino’ e, sobretudo, pelas 18.788 mulheres que ‘deram cor à mais bela bandeira do mundo’ (sem desprimor para outras bandeiras nacionais esteticamente tão impressivas e apelativas)! Além disso, não consta que haja qualquer padaria a patrocinar os nossos ‘cruzados’ da bola.

O futebolês patrioteiro manda, porém, que se arranje um cognome histórico para todos aqueles rapazes lusitanos envolvidos na grande gesta do pontapé na bola em terras outrora prussianas. Já foram ‘Magriços’ em Inglaterra, ‘Patrícios’ no México e ‘Tugas’ na Coreia do Sul. Por que não serem, agora, ‘Sebastiões’ na Alemanha Federal?!

Atenção, não estou a pensar no Sebastião da lenga-lenga, aquele ‘que come tudo sem colher e, depois, dá pancada na mulher’. Isso é que não! Haja respeito pelas claques femininas, tanto as portuguesas, que deram cor à mais bela bandeira do mundo, como as ‘chicas de Saltillo’, que apoiaram os nossos ‘Patrícios’ em Monterrey contra os ingleses (1-0) e contra os polacos (0-1). Também não estou a pensar naquele Sebastião que surge em alguns dos melhores dicionários como sinónimo de: ‘ingénuo, pateta, matias’.

Nada de confusões. O Sebastião que tenho em mente é o que foi Rei de Portugal, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir há mais de quatro séculos e que pressagia ‘o regresso de Portugal a um esplendor nacional perdido’. Haverá nevoeiro na Alemanha? Não sei. Mas confesso que hesitei entre D. Sebastião e Vasco da Gama. É que a ‘Bota Portugal’ tem gravada no calcanhar a nau São Gabriel e até me inspirou uma versalhada que, na minha imodesta opinião, está perfeitamente à altura dos vários hinos patriótico-publicitários que passam a toda a hora na rádio e na televisão: ‘Com a nau São Gabriel nas botas, / Os novos Gamas vão trilhar todas as rotas’! Mas a Alemanha fica tão perto que não justifica um caminho marítimo tão longo. Daí a opção por D. Sebastião.

Fica assim claro que repudio com toda a veemência o inadmissível criticismo de intelectuais moralistas, complexados e maníaco-depressivos que não enxergam patavina do jogo da bola. Lanço apenas um alerta aos nossos ‘Sebastiões’: cautela com o ‘arroz e feijão’ que tramou a espantosa selecção lusa de sub-21! Bebam leite e sigam o exemplo das dezenas de vacas garridas expostas em Lisboa: ‘Comam a relva e prestigiem o país’ – como quer o doutor Bagão Félix. E salvem a pátria – como quero eu. Não poupem os ‘cleptocratas’ angolanos (mesmo os que jogam no Barreirense), ‘chacinem’ os aztecas e façam o que Bush-filho ainda não conseguiu fazer: ‘arrasem’ o Irão. Nada de pieguices ‘intelectualóides’. Sejamos primitivos. A vitória será nossa. Uga, uga Portugal!

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(*) Crónica de Alfredo Barroso publicada no «DN» de hoje (não está online), e aqui transcrita com seu consentimento.

O autor aproveita para dar aos leitores deste blogue o seguinte esclarecimento:

«O termo ‘Uga’ consta do ‘Dicionário de Expressões Populares Portuguesas’, de Guilherme Augusto Simões (Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1993) e significa, quando é usado como interjeição: ‘P’rà frente!’; ‘Avante!’».