«O Ovo de Colombo» (*)
HÁ ALGUM tempo, apresentaram-me a um senhor que se propunha abrir um café-restaurante numa zona onde já havia muitos outros. Logicamente, perguntei-lhe como é que tencionava competir com quem já tinha a sua clientela estabelecida mas ele, talvez por não me conhecer de lado nenhum, limitou-se a sorrir e mudou de assunto.
Tempos depois, num longo passeio sem rumo certo, calhou passar à sua porta. Entrei, almocei, e já me vinha embora (agradado com a refeição, o preço e o ambiente) quando ele, reconhecendo-me, me veio cumprimentar.
Tempos depois, num longo passeio sem rumo certo, calhou passar à sua porta. Entrei, almocei, e já me vinha embora (agradado com a refeição, o preço e o ambiente) quando ele, reconhecendo-me, me veio cumprimentar.
Acompanhou-me até à saída e, quando o felicitei pelo evidente sucesso (que se podia aquilatar pela casa cheia), explicou-me, então, o seu segredo:
- Não é mais do que o velho ovo-de-Colombo. Limitei-me a observar a concorrência e evitar o que ela tem de mau. Ao contrário do que possa parecer, tem sido a coisa mais fácil do mundo.
E foi assim que, em relação aos cafés, pastelarias, snack-bars, leitarias e restaurantes da vizinhança fiquei a saber: que uns raramente disponibilizavam, simultaneamente, toalhetes, sabão e papel-higiénico; outros recorriam a empregados maldispostos; outros, ainda, tinham cozinheiros muito lentos e pouca variedade de comidas... e por aí fora, numa enumeração exaustiva onde não faltavam, é claro, os que eram careiros, os que punham a televisão aos berros, os que só de longe em longe varriam o chão, os que poupavam no mata-moscas... e, evidentemente, os que acumulavam várias dessas "qualidades".
Em face disso, perguntei-lhe como é que explicava que, sendo esses erros tão evidentes e fáceis de evitar, os que os praticavam persistissem neles. E foi então que ele, sorrindo, me atirou - à laia de despedida:
- Meu caro amigo, embora todos os dias eu lhes roube clientes, eles continuam a proceder exactamente como quando eu para cá vim. Sabe? É que a última coisa a morrer não é a esperança, mas sim a mentalidade...
- Não é mais do que o velho ovo-de-Colombo. Limitei-me a observar a concorrência e evitar o que ela tem de mau. Ao contrário do que possa parecer, tem sido a coisa mais fácil do mundo.
E foi assim que, em relação aos cafés, pastelarias, snack-bars, leitarias e restaurantes da vizinhança fiquei a saber: que uns raramente disponibilizavam, simultaneamente, toalhetes, sabão e papel-higiénico; outros recorriam a empregados maldispostos; outros, ainda, tinham cozinheiros muito lentos e pouca variedade de comidas... e por aí fora, numa enumeração exaustiva onde não faltavam, é claro, os que eram careiros, os que punham a televisão aos berros, os que só de longe em longe varriam o chão, os que poupavam no mata-moscas... e, evidentemente, os que acumulavam várias dessas "qualidades".
Em face disso, perguntei-lhe como é que explicava que, sendo esses erros tão evidentes e fáceis de evitar, os que os praticavam persistissem neles. E foi então que ele, sorrindo, me atirou - à laia de despedida:
- Meu caro amigo, embora todos os dias eu lhes roube clientes, eles continuam a proceder exactamente como quando eu para cá vim. Sabe? É que a última coisa a morrer não é a esperança, mas sim a mentalidade...
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Publicado no «PÚBLICO/Local-Lisboa» em 3 Ago 06 e também no «Correio da Manhã de 9, mas com muitos cortes.
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