23.10.06

Planeta da discórdia (*)

ÉRIS E DISNÓMIA foram os nomes finalmente adoptados pela União Astronómica Internacional para o planeta anão 2003 UB313 e para o seu satélite. Descoberto em 2003 por Michael Brown, o planetóide provisoriamente designado Xena tornou-se o pomo da discórdia quando se verificou ser maior que Plutão. Como se sabe, esse facto veio a desencadear a polémica despromoção deste astro.
Sendo assim, os nomes da deusa grega Éris, conhecida na mitologia como propagadora da discórdia, e de sua filha Disnómia, conhecida como deusa dos fora-da-lei, parecem particularmente apropriados.

Muita gente não se recordará, mas Éris é, literalmente, a portadora do pomo da discórdia. Homero refere-se-lhe na Ilíada como sendo «a Discórdia, sempre furibunda, irmã e amiga de Ares matador de homens» (IV, 440). Foi Éris quem atirou para o meio das deusas Atena, Hera e Afrodite uma maçã de ouro, dizendo que ela deveria ser dada «à mais bela». Gerou-se a confusão entre as deusas. Como juiz, foi escolhido o príncipe troiano Páris. Pressionado pelas três deusas, que o procuravam seduzir com promessas, o jovem acabaria por escolher Afrodite, que lhe prometera o amor de Helena de Esparta, a mais bela mulher sobre a Terra. Páris conquista e rapta Helena, que leva para a bem protegida Tróia. Os gregos assaltam a cidade ao longo de uma guerra de dez anos, sangrenta e terrível. Acabam por destruí-la e quase todos os heróis morrem, incluindo o colérico Aquiles.
Vê-se que o nome Éris é apropriado para o polémico planeta anão. Provém de uma deusa odiosa mas respeitável, enquanto o de Xena tinha sido criado para uma mera personagem televisiva. Mesmo entre deusas irreais, algumas são mais irreais que outras.

(*) Adaptado do «Expresso»

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Muito interessante, como sempre, Nuno Crato!

As imagens (ausentes da versão em papel) também são sempre bem escolhidas e valorizam muito a crónica.

E.R.

24 de outubro de 2006 às 13:46  
Anonymous Anónimo said...

Agradeço-lhe pelo notável trabalho e esforço em prol da divulgação da ciência e também pela memorável sessão no sábado de 21 de Outubro 2006, no liceu Pedro Nunes, que o Centro Nacional de Cultura levou a cabo, celebrando o centenário do insigne português e professor Romúlo de Carvalho (e poeta António Gedeão.

Aproveito para lhe renovar o pedido/sugestão para que seja possível, através da televisão generalista (RTP?), proporcionar a divulgação da ciência a um público mais vasto.

É preciso "comprar" vontades para a ciência e o conhecimento para que, o mais rapidamente possível, passemos da "era do pensamento com os pés" onde impera a todo-poderosa futebolização, para a era do pensamento com os neurónios.

O seu saber e o seu poder de comunicação, serão ouro para este país, sobretudo para os jovens.

Mais uma vez, obrigada. A si e ao Dr. Guilherme de Oliveira Martins, presidente do CNC.

24 de outubro de 2006 às 14:18  

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