O desastre da Nazaré
Nos últimos dias, tem-se escrito muito acerca da morte de três pescadores (e o desaparecimento de outros três) a 50 metros da praia, na Nazaré. Sobre esse assunto, vale a pena ler a opinião de Eduardo Dâmaso no «DN» (ver «Comentário-1»).
NOTA: A imagem e o link para o texto que a acompanha são do «CM» de 6 Jan 07.
NOTA: A imagem e o link para o texto que a acompanha são do «CM» de 6 Jan 07.
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Morrer na praia
A tragédia ocorrida junto à costa da Nazaré em que morreram seis pescadores continua a gerar a maior perplexidade. Ouvindo algumas explicações, ficam ideias difíceis de engolir: de que é mais fácil à Força Aérea efectuar um salvamento no alto mar do que a 50 metros da praia; de que o alarme dado pelos pescadores pode ter sido tardio; de que morreram porque não tinham os coletes de salvação; de que estavam a pescar robalo na rebentação, área onde não pode estar uma frágil embarcação de pesca, particularmente em dias de mar muito agitado.
As explicações têm sido avançadas por responsáveis da Força Aérea, da Marinha, e todas elas parecem ter alguma lógica. Já se sabe que a Força Aérea e a Marinha costumam ter um elevado padrão de eficiência neste tipo de operações, também se sabe que uma boa parte da pesca nacional é feita em condições de segurança muito frágeis, seja por responsabilidade do Estado ou por incúria dos pescadores.
Neste caso, porém, há uma realidade profundamente chocante que, independentemente das causas, deve interpelar profundamente qualquer cidadão ou instituição. Aqueles ho- mens estiveram horas, minutos, se- gundos fatais, a enfrentar a morte com a miragem da salvação a menos de 50 metros. Morreram literalmente na praia, vendo a morte a abraçá-los sob a forma das ondas do Atlântico, perante os olhares incrédulos dos que estavam na praia, esgotados os esforços dos que arriscaram a vida para os tirar do caixão em que boiavam.
Esta é a imagem retida por todos os que lá estavam naquela má hora e por nós os que não estávamos na praia. É uma imagem que nos incomoda en- quanto país, que reflecte uma realidade sobre nós próprios que nos deixa acabrunhados. Tal como em Entre- -os-Rios, tal como na devastação dos incêndios, tal como nos casos de maus tratos a crianças. Por isso, encontrem todas as explicações que quiserem, das mais racionais e objectivas às mais despropositadas, mas nenhuma delas iludirá o essencial: um país que não é capaz de salvar seis vidas naquelas circunstâncias é um país miserável! Um país cujas Forças Armadas não conseguem salvar seis vidas na- quelas circunstâncias é um país que não precisa de Forças Armadas! Por- tanto, em vez de procurarem razões de desculpabilização mais ou menos colectiva - os culpados foram eles, os que morreram! - esforcem-se, ao menos uma vez na vida, para encontrar soluções que evitem novas tragédias com a praia à vista.
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Eduardo Dâmaso
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