A sondagem
A SONDAGEM DN/TSF/Marktest pôs números no que os cidadãos percepcionam. A direita tem razões para estar nervosa.
Os 27% de intenções de voto atribuídos ao PSD são, para os fiéis, decepcionantes. Claro que há que ter em conta que o ponto de partida para esta legislatura foi, para além do que disseram as urnas, um desencanto e um descrédito para os quais não se vislumbram precedentes. Numa fase inicial, até pareceu que a nova direcção estava consciente da necessidade de grandes e urgentes mudanças. E a política arriscada que adoptou para com algumas candidaturas nas autárquicas foi um grande investimento em valores a que a classe média é geralmente sensível. Mas o grupo parlamentar fora naturalmente feito pela direcção anterior e o aparelho partidário só se renova pelo cerco de uma grande mobilização dos quadros que não gostam de ser oposição. As "grandes manobras" da revisão do programa do partido começaram tarde e, não sendo optimista o ar que por lá se respira, ameaçam não vir a ser cavalgada que intimide o aparelho. Depois veio o apoio sem reservas a Jardim: um apoio que, no Continente, não é bem compreendido e que, por não retribuído nem explicado, foi tido por uma subordinação sem princípios. Depois ainda, foi o escusado estatuto de perdedores do referendo (agravado por haver, no partido, vencedores). E, enfim, o galope suicidário da Câmara de Lisboa: um problema de dimensão nacional em que Marques Mendes, ao proporcionar o espectáculo televisivo da convocação de Carmona Rodrigues à sede do PSD, fez suas as responsabilidades de uma crise para a qual ainda não teve soluções. É neste contexto que a fraqueza dos desafios à liderança, como as entrevistas de António Borges ou o site de Luís Filipe Menezes, revela apenas a anemia do partido, e não a inexpugnável fortaleza de quem nele manda.
Mas também o CDS tem os seus agoiros. Mais do que os 5% de intenções de voto, falam os 32% de saldo negativo nas apreciações de "simpatia". E maior do que esta sombra é a que projecta Paulo Portas e a sua promessa de uma "declaração política" para os próximos dias. Claro que é bem possível que seja cedo para avançar: nem o luto penou o bastante, nem a prudência recomenda uma exposição de dois anos. Mas, seja a declaração o que for, Ribeiro e Castro, ligado ao ventilador, passa a viver um tempo emprestado que só (e duvidosamente) um enésimo congresso poderia devolver-lhe.
«DN» de 25 Fev 07
Etiquetas: NBS
3 Comments:
O Nuno Brederode Santos, tanto quanto parece, é uma pessoa que certamente não aprovava o regime salazarista-marcelista, nem hoje aprovará quaisquer tentativas de o recuperar, seja qual for a forma hábil de "embrulhar" o novo produto.
Está o Nuno Brederode Santos seguro de que a esquerda que governa o país com maioria absoluta, não se encontra em fase de preparação de um regime muito parecido, mutatis mutandis, com o regime salazarista-marcelista?
Será o nervosismo da direita que nos deve ocupar, ou a apreensão com a criação, cada vez mais evidente, de uma nova ANP ?
Jorge Oliveira
Eu penso que, sendo o PS "um partido do arco do poder" (como agora se diz), é natural que atraia de tudo, desde ex-MRPP (como Ana Gomes) até ex-PSD (como Helena Roseta), para já não falar de Freitas do Amaral, ex-CDS, que chegou aonde chegou sem grandes problemas de consciência.
Quando a ideologia desaparece (ou passa a 2º plano, como é agora o caso), isso é quase natural, quer para quem está, quer para quem chega.
Imagino que, com qualquer outro partido no poder (e com expectativas de se manter por lá um tempo razoável), suceda o mesmo.
Comportam-se como «novas ANP», como diz J.O.? Claro. É "a bidinha", como dizia um primo meu de Famalicom...
M.
Só quem tem uma sensibilidade menos apurada é que não se dá conta de que existe uma atmosfera diferente da que se observou em qualquer período pós-25 Abril.
Nunca o aparelho de Estado se encontrou dominado de uma forma tão abrangente por figuras de uma mesma força partidária.
Banco de Portugal, Tribunal de Contas, CGD, ERSE, …, todos os dirigentes são afectos ao Partido Socialista.
E isto ao mesmo tempo que não se observa qualquer simulacro de oposição.
Considero que a situação é bastante perigosa para o regime democrático e não me parece que seja altura para fazer artigos a gozar com o nervosismo da direita.
Jorge Oliveira
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