12.4.07

Olhar de cima

UM FULANO QUE EU CONHEÇO tem uma filha no segundo ano de Direito. No outro dia, perguntei-lhe a que área da advocacia tencionava dedicar-se, respondendo-me ela que não iria ser advogada.
Juíza é que eu quero ser. Ganha-se bem, garantido ao fim do mês, o “stress” não se pode comparar e olha-se de cima para toda a gente.
Para provocar esta jovem de 21 anos, argumentei:
- Não receias ter problemas de consciência, de errares, de mandares pessoas inocentes para a cadeia, de destruíres vidas humanas!?Vais mesmo gostar de julgar os outros?!
- Só tenho que ver o que a lei diz e aplicá-la. Não somos nós que criamos as leis.
Enviei-lhe uma história que li na interessante série de entrevistas a reclusos que Pedro Prostes assina no semanário “Sol”. O preso em questão tem 43 anos de idade e passou 25 na prisão. Participou em assaltos mas nunca matou ninguém. É tóxico-dependente. Começou aos 16 anos a drogar-se numa cadeia e foi agarrado pela heroína aos vinte e poucos anos noutra penitenciária.
A miúda respondeu-me hoje:
- Bem arrecadado, não acha? - perguntou-me ela.
Não acho nada. Este País está cada vez mais perigoso.

«25ª HORA» - «24 horas» de 6 de Abr 07

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Como que dizer?
Há que ter fé no futuro, mas vendo acórdãos como o do Público e lendo esta história, só podemos concluir que algo está muito mal, e temos todos que fazer algo.
Resta saber o quê, mas que cada uma vá fazendo o que puder nem que seja comentar e noticiar.
Necessário uma "moral", que as leis vão-se fazendo até na jurisprudência.

13 de abril de 2007 às 04:08  

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