18.5.07

A QUADRATURA DO CIRCO

Esta estranha palavra blog
Por Pedro Barroso
O que é isto? Que somos?
Que estranha forma de comunicar é esta? O que fazemos aqui?
Suicídio da palavra? Escrever na água, como dizia Abelaira?
Perda de tempo, desperdício? O que é afinal um blog?
Isto é, os opinion makers mudaram. Um post pode derivar numa investigação. Um desabafo pode ser mais que isso e tornar-se uma denúncia pública. O que há que relevar é a importância de se estar a criar um outro sentido crítico circulante.
Isto é, começamos a ter poder. Pouco; mas incómodo e persistente.
Porque publicamente exposto. Acessível. Fiável. Personalizado.
Os jornais e os media em geral, devido à sua corrupção passiva e/ou ao seu entendimento sentado e pseudo anódimo da notícia, tornaram-se ateroscleróticos convergentes ou divergentes, conforme critérios editoriais complexos e pré-encomendados.
A isenção tornou-se uma utopia.
E, como tal, os escribas se comportam. Mas não o fazem por paixão, como nós. Essa, perderam-na há muito tempo.
Fazem-no por conveniências. São susceptíveis a lóbis e partidos; dirigidos por gente escolhida; afecta a grupos financeiros, políticos, religiosos, empresariais ou subterrâneos.
São tão incredibilizados por redundâncias e insistências no que lhes convém apadrinhar, como pelos silêncios estranhos do que gritantemente calam. Endeusam e condenam a pedido.
São culturalmente ausentes na maioria das suas atitudes no corpo central. E mesmo nos suplementos especificos de Cultura, apresentam uma visão própria bem controversa, de carácter mais que duvidoso, divorciado nas preferências públicas, normalmente elitista, condicionador e tendencioso na crítica.
Eu, por exemplo, tenho por habito não ir a nenhum restaurante encomendado e que esteja na moda. Aprendi à minha custa que os roteiros gastronómicos são um ninho de conveniências e vaidades, para não falar em compadrios. O mesmo acontece para o produto cultural – filmes, livros, discos…-, a noticia técnica, a inovação científica, a entrevista laudatória, etc.
Ora os blogs, em princípio, são um desabafo pessoal saudável, credível e documentado pela experiência vivida e pelo sentido crítico comum, bem mais próximo do cidadão vulgaris lineus.
Mas um cidadão que não está distraído. E cuja opinião nunca ninguém comprará.
O povo está sem dinheiro? Sem gozo de viver? A carne está mais cara? A bicha da Previdência deixou-nos sem reacção? Os impostos subiram? As reformas dos políticos são uma vergonha? Para tratar de um assunto um fulano tem de ir a 32 sítios? O simplex só complica? Os Bancos não pagam impostos? A Polícia excedeu-se?
É natural que o fulano, cansado e desiludido, chegue a casa e desabafe isso no seu próprio blog.
E a vida directa é precisamente essa notícia.
Sem maquilhagem. Acusatória e democrática. Despida de influências. Pessoal.
Os blogs são um pouco essa força. E o nosso - mesmo sorumbático, porque nenhum de nós parece acreditar já muito em grande coisa do que nos apresentam no actual quadro optativo - tem essa função suplementar de aviso e comentário.
Com a vantagem de ter a fazê-lo gente veterana da vida, provavelmente atenta.
Mas todos têm, mais coisa menos coisa, esse sentido, creio.
E mesmo quando não são para retrato de notícia, vão pelo menos cumprindo uma função de catarse pessoal. O que é bom.
Evitam o suicídio, o homicídio, o apedrejamento de carros oficiais, o insulto público às respeitáveis autoridades, adiam a vontade de emigrar, aliviam crises de fígado, desentopem as artérias, etc.
Nos noticiários nossos, dia a dia nos dai hoje, os comentadores são sempre os mesmos. Já repararam? Até enjoa.
Os homens sabem de tudo! Desde a crise do leite, ao segredo de justiça, aos scuds do Iraque. E dá a ideia de que só há seis, talvez oito, pessoas em Portugal capazes de comentar a vida social e pública. As que os jornais rádios e TV convidarem!
Os blogs andam a provar que não. Que há gente que sabe escrever e tem opinião.
E que, muitas vezes, os tão famosos comentaristas não são mais que provedores de si mesmos, pagos a peso de ouro para dizerem banalidades.

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2 Comments:

Blogger mfc said...

Lev Grossman, quando escreveu o artigo sobre a pessoa do ano de 2006, não o escreveu em vão. E por muitop interessante que sejao artigo de Pedro Barroso - que é - não deixa de ser uma pastiche.
Mas é bom que o haja em português. Revela que há, pelo menos, mais alguém que o Paulo Querido, Luís Ene e António Granado (que me lembre)que consiga perceber a importância e prazo de validade dos blogues.

18 de maio de 2007 às 23:04  
Anonymous Anónimo said...

Caríssimo amigo,
Se é pastiche ou não, desconheço.
Reflecti de cabeça própria sobre isto que fazemos. E escrevi o que pensava.
O que,com efeito, me parece um sentir seguramente óbvio e comum a muitos mortais. Não descobri a pólvora; apenas discorri um pouco.
Agora, entre mim e o Grossman existe, juro-lhe, um total
desconhecimento.Ignorância minha claro.
A única coisa que nos aproxima, para já, constato, é o facto dele ser um "grossman" e eu ter 150 kg... mas enfim... bloguemus!
abraço
pb

20 de maio de 2007 às 07:29  

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