14.6.07

AS PAIXÕES E OS INTERESSES

Por Pedro Lomba
TREZE AUTARCAS DO OESTE pediram que fosse tornado público quem pagou o estudo encomendado pela CIP, o estudo que obrigou o Governo a recuar na Ota e a ponderar Alcochete. Reparem que não interessou a estes autarcas refutar as conclusões do estudo da CIP defendendo, comparativamente, os superiores benefícios da Ota. Os autarcas do Oeste só quiseram denunciar que por trás do estudo haveria o interesse particular de quem o financiou, o que seria suficiente para minar a sua credibilidade. Dito isto, convém lembrar que os autarcas do Oeste também representam interesses: dos seus municípios, das suas populações, dos seus mercados eleitorais. Interesses aceitáveis e justificados. Mas interesses provavelmente tão parciais e relativos como outros interesses, públicos e privados, conhecidos e desconhecidos, que com certeza mantêm inúmeras preferências para a localização do novo aeroporto. Por que razão deveria o Governo escolher uma solução apenas porque ela beneficia mais municípios a norte do que a sul? Sendo a construção de um novo aeroporto um grande investimento público, que onera todo o País, que compromete o seu desenvolvimento nas próximas décadas, a ideia de atirar interesses contra outros parece incomensurável e improdutiva.
Os interesses, naturalmente, existem. Os interesses organizam-se. Não é possível pretender que eles não são o que são, não é possível aboli-los nem minimizá-los. Até certo ponto, é recomendável que existam. A presença de interesses previne decisões unilaterais e impositivas dos governos. Têm interesses os autarcas do Oeste, os da Margem Sul e os de Trás-os-Montes, que também se julgarão com direito à sua própria megalomania. Têm interesses as populações locais num e noutro sítio que planeiam viver ao pé de um aeroporto. Têm interesses os proprietários, as construtoras, as consultoras, os bancos, os escritórios de advogados, os ambientalistas, os partidos e todos, incluindo o Governo, que vejam no novo aeroporto uma fonte de ganhos e legitimidade. Estes interesses são racionais. Desde de que não anulem outros, é legítimo defendê-los. E é para administrar todos esses interesses em concorrência que há governos eleitos. No entanto, no novo aeroporto, não se pode pedir que o Governo decida harmonizando interesses mas que escolha a melhor localização, a partir de uma rigorosa justificação custos-benefícios dos investimentos a fazer. Há dois anos garantiram-nos que essa justificação demonstrava a Ota; agora, para evitar embaraços à candidatura de António Costa em Lisboa, embora o ministro Lino jure que se estudaram todas as alternativas, descobrimos que nada é certo. Os maus governos são os que optam arbitrariamente por certos interesses lesando outros. Os maus governos também são os que, com obstinação cega, não fazem as coisas simples.
«DN» de 14 de Junho de 2007 - [PH]

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2 Comments:

Blogger Raquel Sabino Pereira said...

UM GRANDE ABRAÇO AO PEDRO LOMBA!!!

15 de junho de 2007 às 16:52  
Anonymous Anónimo said...

Os interesses não são todos iguais, Pedro Lomba. Há interesses que se mostram e há interesses que se escondem. Os autarcas da região Oeste falam em nome da região Oeste, como é natural e correcto.
Mas os anónimos promotores do tal estudo falam em nome de quem? Querem fazer-nos crer que falam em nome de todo o País. Parece que é mentira.

17 de junho de 2007 às 16:18  

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