AS ZARAGATAS NO PSD
Por Baptista-Bastos
A ZARAGATA NO PSD não é de agora. É de nascença. Acentuou-se com a ascensão ao Poder do dr. Cavaco. A ausência de doutrina, de projecto, de ideologia, notoriamente exibida pelo economista, foi substituída pela disposição de retirar importância à política e promover a tecnocracia como fórmula salvadora de todos os males. A rigidez, o autoritarismo e a flagrante carência de cultura humanística ajudaram a criar o postiço institucional que ressaltou para um povo afogado em iliteracia, propenso a crer em milagres e a entregar o destino próprio em mãos alheias.
Cronistas da época engendraram uma metáfora feroz: o homem era um eucalipto: secava tudo em redor. Houve, também, quem percebesse que o dr. Cavaco estava para ficar, dado o homem e as circunstâncias. As abjurações partidárias, as capitulações morais arregimentaram aqueles que, no fundo, sempre estiveram à venda. E as perseguições, o culto da amnésia histórica, o vazio no debate constituem indicações reveladoras da época.
Até hoje. O PSD vive de derivas e de espaços em branco enraizados na sua própria origem. Sá Carneiro compreendeu essa malformação inicial e tentou emendá-la. Entre a confiança estóica e a reserva céptica, admitiu o verosímil. Alguns dos seus livros são esclarecedores, sobretudo Por uma Social-Democracia e Poder Civil, Autoridade Democrática e Social-Democracia. E, ainda há dias, no semanário Sol, Ângelo Correia, um dos que, neste país, sabe pensar sem querer agradar ao príncipe, dizia, num lúcido resumo: "A maior parte das pessoas de que falamos, hoje, como elite do partido [PSD], não são 'barões', são uma espuma dos notáveis, são pessoas que, só por si, não arrastam qualquer espécie de voto."
O PSD sempre foi o que é: fragmentos esparsos de representações que nunca chegaram a moldar-se numa ideologia, apesar dos esforços de Sá Carneiro. E qual era, verdadeiramente, a ideologia de Sá Carneiro? Um demoliberal na antiga tradição republicana e um republicano inclinado a eliminar os desnivelamentos, sem estar muito afastado do povo nem demasiado próximo dele. Bom: quer se queira ou não, Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes representam duas das múltiplas faces daquele partido.
No momento: A morte de Eduardo Prado Coelho deu origem ao usual choro das carpideiras. A banalidade dos artigos publicados não esteve à altura do autor de Teses de Abril, título omitido nas bibliografias. Duas ressalvas: a crónica de Rui Tavares (que, contra o pensamento dominante, lembrou Natália Correia e António José Saraiva, entre outros), e o texto do blogue http/retrato-auto.blogspot.com, ambos admiráveis, e inseridos anteontem [dia 27] no Público.
«DN» de 29 de Agosto de 2007Etiquetas: BB
3 Comments:
Gostei da analise aos espumáticos!:) (não existe esta palavra, melhor não existia!)
Tudo isto é verdade, tudo isto é triste, tudo isto é fado.
Todavia, tal como o Benfica é o clube mais português de Portugal, também o PSD, com todos os defeitos e virtudes dos portugueses, é, sem dúvida, o partido mais português de Portugal. No PS só encontramos virtudes, o que, além de não corresponder ao substrato nacional, se torna muito entediante.
Por isso, é imperioso relançar o PSD como o maior partido nacional. Dar-lhe a estatura que se justifica e que o país merece. Trata-se, é claro, de uma tarefa que exige alguma paciência. De momento, os candidatos que se perfilam para a liderança do partido são dos portugueses mais baixinhos. Quer em altura, quer em projectos. Aguardemos pelos próximos.
Jorge Oliveira
A.João Jardim dizia, recentemente, que o PS, na Madeira, está desfeito.
Por cá, ouvimos muita gente do PS a dizer o mesmo em relação ao PSD e ao CDS.
Poderão todos ter razão, mas o certo é que uma oposição forte e - acima de tudo - credível é fundamental para a Democracia, e só governantes inseguros e/ou medíocres é que se podem alegrar quando tal não sucede.
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