28.8.07

PASSEIO ALEATÓRIO

As esferas de Constância
Por Nuno Crato
QUEM VISITA a bela vila de Constância, onde o fim-de-semana passado se realizou uma animada Astrofesta, detém-se habitualmente pelas margens do Zêzere e dá uma volta pelas velhas ruas em torno do largo principal. Tem aí um pelourinho com uma esfera armilar. Infelizmente, tal como habitualmente acontece, esta está mal montada — os círculos polares desapareceram e a faixa do zodíaco está exageradamente inclinada. Quem não deveria gostar seria Camões, que viveu por perto e não fez erros de astronomia no seu poema maior.
Mais acima, saindo da vila, encontram-se sinais para o Centro Ciência Viva, que está completamente dedicado aos astros. Recebe-nos uma bela estátua de José Coelho, onde se evoca a máquina do mundo que o poeta descreveu com perfeição n’ Os Lusíadas.
Entrando no Centro vê-se um parque onde, entre outros instrumentos educativos, está uma gigantesca esfera armilar — esta sim com os círculos correctamente traçados. E inclinada de tal forma que o seu eixo principal, que representa o prolongamento do eixo da Terra, está paralelo a esse eixo. Quem nela entrar perceberá que a esfera armilar é um instrumento astronómico que regista o movimento aparente dos astros. No centro pode ver-se o Sol movendo-se ao longo do dia, paralelamente ao círculo do equador. E de noite a estrela polar no enfiamento do eixo. Ou outras estrelas, movendo-se também em arcos em planos perpendiculares ao eixo. É preciso um pouco de paciência para deixar as horas passar. Mas paciência é fácil ter nas noites quentes e estreladas.
Quem falhou a festa, tem uma em Redondo, dias 7 a 9 de Setembro. E um Verão ainda cheio de actividades astronómicas.
Adaptado do «Expresso» de 25 de Agosto de 2007

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1 Comments:

Blogger pedro oliveira said...

«Quem não deveria gostar seria Camões, que viveu por perto e não fez erros de astronomia no seu poema maior.»

Caro Nuno Crato,

É bom para a História que um cientista como o senhor afirme, categoricamente, que Camões viveu por perto, provavelmente, alicerça essa afirmação num estudo, numa publicação muito recente que não conheço.
Quanto aos erros de astronomia que Camões não faz, estou de acordo, isto se concordarmos com uma concepção ptolomaica «da coisa».
Ainda bem que gostou de Constância, acredite que a História da vila é muito mais rica que umas instalações de ferro torcido e retorcido ou que a suposta presença de Camões que, finalmente, parece provada e documentada.

29 de agosto de 2007 às 22:55  

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