29.2.08

Apito

Por João Paulo Guerra
Afinal, pequenino e amarelo, o “Apito Dourado” existe mesmo.
PORQUE SERÁ que a operação policial contra o branqueamento de capitais tem o nome de código de “Furacão”? Será que o “Furacão” é um grau superior das operações “Tornado” ou “Ciclone”? E a operação “Voo Picado” tem alguma relação com a “Pássaros do Sul”? E será que a “Coruja” tem ligações com a “Noites Brancas”, ou a “Macumba” com a “Erva Daninha”?
Em geral os nomes de código das operações policiais reflectem alguma imaginação e um certo imaginário nem sempre de leitura óbvia por parte dos leigos. Mas agora foi esclarecido o mistério em relação a uma das mais badaladas operações policiais: o “Apito Dourado” existe mesmo e foi exibido em plena sala do Tribunal de Gondomar, a capital do ouro, por um árbitro do Porto, de 3ª categoria, não pronunciado no processo que envolve Valentim Loureiro e outros.
O árbitro recebeu o Apito, pequenino, dourado, no ano 2000 mas não se lembra se a oferta simbólica tinha a ver com o telefonema do então presidente do Gondomar, 25 minutos antes do apito inicial do jogo com o Paredes: “Veja lá o que pode fazer. Tenho umas lembrançazinhas para si”. O Apito é um mero berloque sem valor, uma amostra da capital da ourivesaria. Não é com apitos destes que se fabricam resultados, nem mesmo nas divisões secundárias.
Mas a cena do apito no Tribunal de Gondomar transcendeu a mera exibição do penduricalho, deixando à vista que a promiscuidade dos pedidos de favores e da oferta de pingentes faz parte das regras do jogo. O julgamento deste megaprocesso do futebol de terceira ordem continua. Talvez aconteça que em próxima sessão um árbitro tire da algibeira uma peça, toda descascada, da fruta proibida.
«Diário Económico» - 29 Fev 08 - c.a.a.

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