11.4.08

Ortografia

Por João Paulo Guerra
Porque é que peremptório, que se diz ‘perentório’ quando se fala, quando se escreve tem duas complicações numa só palavra, o p antes do t e depois um m que só lá está por causa de um p desnecessário?
NINGUÉM DE BOM-SENSO poderá dizer, de forma ‘perentória’, ou escrever, de modo peremptório, a razão pela qual não se celebrou ainda um pacto para eliminar o c do acto, ou tirar o c da Selecção. Será por o seleccionador ser brasileiro? E será que algum viajante viu razão para acrescentar um p no Egipto? Um p de quê? De ‘pharaós’, palavra que se escreve com f?
Já se compreende que alguns senhores doutores portugueses façam questão em ser tratados com maiúsculas deferências por Senhor Doutor. Mas que pensa a maioria dos doutores que, aliás, nem doutorados são? E porque será que a Rua Augusta se escreve obrigatoriamente com maiúscula quando não se trata apenas de um mero adjectivo e não de celebrar uma Dona Augusta que ninguém sabe quem teria sido? E o Norte, Sul, Este e Oeste que levam maiúscula só por serem cardeais? Privilégios incompatíveis com o carácter laico do Estado.
Pelo contrário, a palavra pêlo, perdendo o acento, pode prestar-se a confusões graves. Já o hífen não faz qualquer falta ao fim-de-semana, nem sequer ao pé-de-meia. O que faz falta é aliviar a malta do contra-relógio da crise e dos furores da contra-revolução, palavras que perdem o hífen mas vão passar a dobrar os erres. Antes erres a mais que a menos. Quando a revolução de Abril perdeu o r foi o que se viu.
Nada disto é grave. Grave será dobrar a língua e a espinha a interesses estranhos. Mas isso não é coisa que se escreva, assine ou reconheça num acordo. Faz-se na modalidade de co-ocupação, com hífen.
«DE» de 10 Abr 08 - c.a.a.

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1 Comments:

Blogger Jorge Oliveira said...

Peremptório vem do latim peremptoriu. A proximidade etimológica salta à vista. Esta proximidade é fundamental para compreender e traduzir termos de outras línguas com a mesma origem. O inglês, por exemplo, apesar de ser uma língua de estrutura germânica, tem cerca de 50% dos seus termos com origem no latim (através do francês que os Normandos impuseram na Inglaterra quando a conquistaram em 1066).

Respeitar a etimologia (etymologia) procurando não nos afastarmos demasiado dela, constitui certamente um objectivo meritório. Abastardar o mais possível a origem etimológica das palavras só constitui motivação para analfabetos e anarcas.

O malfadado acordo ortográfico, não passa de uma cedência aos analfabetos do Bràsiu. É uma prova de que em Portugal, com honrosas excepções, de que se destaca Vasco Graça Moura, há demasiados cobardes com influência na administração da coisa pública. Ora, os cobardes não gostam de si próprios, quanto mais dos outros. Não merecem confiança.

12 de abril de 2008 às 08:59  

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