‘Boom’
Por João Paulo Guerra
Portugal vai ter até ao final do ano que vem mais 20 a 25 hospitais privados.
ESTA SERÁ A OFERTA do mercado privado para a procura criada pelo laborioso e sistemático desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde cometido por sucessivos governos, do partido X como dos partidos Y e Z. Em consequência de tais políticas há hoje um mercado de cerca de 1,7 milhões de portugueses que pagam para ter a saúde que os respectivos seguros lhes garante. Por exemplo: o seguro cobre a cirurgia, faça-se a cirurgia. Se não cobrir, cada um é livre de morrer à vontade e barato.
** Foi assim que, paulatinamente e perante a abstenção de todos quantos juraram defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República, a saúde deixou definitivamente de ser “tendencialmente gratuita”. Isto significa uma revisão da Constituição à revelia das normas e procedimentos constitucionais previstos para alterar a lei das leis. Mas quem quer saber da Constituição e de veleidades “tendencialmente gratuitas” perante os milhares de milhões do negócio da saúde?
** Acontece que este ‘boom’ de hospitais privados está a colocar no horizonte um novo problema, para o qual os solícitos governantes e equiparados portugueses vão ter que arranjar solução. Dentro de quatro anos vão faltar os médicos para acompanhar o que o Diário de Notícias de ontem designava por “dinâmica da iniciativa privada”. Mas está bem de ver que solução vai ser encontrada: bastará desligar da máquina o moribundo SNS, desviando-lhe os recursos humanos e deixando-o entregue a uma dúzia de utopistas dispostos a tratar indigentes.
** É o mercado a funcionar. Como habitualmente com a mãozinha do Estado a dar o empurrão decisivo sem o qual a “dinâmica privada” não funciona.
«DE» de 21 Mai 08 - c.a.a.Etiquetas: JPG
1 Comments:
Palavras para quê se já disse tudo.
Quem tem dinheiro vai ao médico quem não tem fica em casa.
Passei por aqui navegando ao acaso.
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