29.6.08

As faces da lei

Por Nuno Brederode Santos
OS DEUSES DECIDEM o destino dos homens pela mediação de um juiz de Direito. Com as magras (mas tremendas) excepções da fisiologia do cósmico e da má têmpera das grandes massas humanas (o clima, as catástrofes naturais, as invasões, os genocídios), a alta gestão das nossas vidas jaz - transida, frágil e ansiosa - no regaço negro de uma beca. É claro que nem só os juízes nos condicionam. Desde logo, porque cada eu esbarra no outro. E depois porque há o polícia autoritário, que diminui e humilha o cidadão, e há o político que se fecha com a sua consciência para resolver se somos mais amigos do Kosovo ou da Sérvia (ou qual a amizade que mais nos convém, o que é quase, quase, o mesmo). Mas são coisas que pouco mais fazem do que decorar o quotidiano: questões de Fabergé na vitrina ou de naperon debaixo da fruteira. Não resistem a três dias de conversas de roda de amigos, num total de três bicas pela manhã e três imperiais ao fim da tarde. Talvez atrapalhem a monitoria fina da qualidade de vida. Mas não mais. Porque quem nos liberta e prende; quem nos atribui ou denega a herdade do avô; quem decide da infância dos nossos filhos no divórcio; quem sabe dos ocultos critérios para a fruição de um riacho entre vizinhos de sequeiro; quem, enfim, com a ponta plebeia de uma bic, faz a gestão da felicidade individual em sociedade, são os juízes. E se o juiz não faz a lei, que apenas interpreta e aplica, e isto mais não for do que a percepção popular do cargo que ele habita e do mandato que lhe cumpre, acreditem: não há outra percepção que valha a pena.
(...)
Texto integral [aqui]

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1 Comments:

Blogger antónio m p said...

Se não lhe parecer desprezível, como julgo, a voz individual e pouco segura nesta matéria de um seu leitor e admirador intelectual, gostaria de lhe manifestar alguma perplexidade, talvez apenas surpresa, por esta sua avaliação do comportamento dos juizes neste caso, isto é, neste contexto.
Pareceu-me que a atitude dos juizes foi uma exigência de responsabilidade, ao poder político, pelo funcionamento de uma instituição de suprema importância para a vida democrática. Por esta importância e não tanto pela segurança pessoal dos juizes, tanto quanto possa separar-se uma de outra coisa. Mas admito que em última análise me escape alguma coisa.
Melhores cumprimentos.

30 de junho de 2008 às 23:04  

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