3.7.08

A visita do casal presidencial ao Papa

Por C. Barroco Esperança
AS VIAGENS DE ESTADO do Presidente da República não têm relevância para a diplomacia, cuja condução compete ao Governo, mas são úteis ao prestígio do País, quer se realizem ao Vaticano ou ao Burkina Faso.
A recente visita do casal Cavaco Silva ao Papa, aliás reincidente, não excedeu os limites do protocolo mas levantou nos órgãos da comunicação social um frenesim desajustado. Entende-se, aliás, mal que a mulher do PR, que goza no aspecto simbólico de algum relevo, se tivesse mostrado ansiosa com a visita – como declarou –, e que levasse como missão «pedir uma bênção especial para Portugal».
Não estando provada a eficácia das bênçãos, normais ou especiais, certamente não resultou daí qualquer benefício ou malefício para o País, mas não devia a mulher do presidente da República de um país laico prestar-se a um gesto de subserviência e misturar assuntos de Estado com as suas legítimas convicções pessoais ou superstições.
Carece a primeira-dama de legitimidade para pedir a bênção, logo especial, para o país que é de todos: crentes de várias religiões, ateus, agnósticos, cépticos e outros. A bênção do Papa pode até ser ofensiva para um judeu, irritante para um islamita e insultuosa para um cristão ortodoxo ou para um devoto da IURD. Não cabe à D. Maria Cavaco ser portadora de uma bênção que Bento XVI lhe terá dado facilmente. Nem lha deveria ter implorado, por respeito ao pluralismo religioso e à laicidade do Estado de que o marido é, ou devia ser, o principal garante.
Em Portugal é difícil respeitar a separação Igreja/Estado, uma imposição constitucional, e quando a primeira-dama se comporta com o Papa Ratzinger como uma adolescente em presença de uma estrela pop, a situação só tende a piorar.

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2 Comments:

Blogger Sepúlveda said...

Balelas!
A primeira-dama pediu a bênção para Portugal. Os que a não quiserem, também não lhe darão importância.
Isto não é minimamente problemático, a não ser que alguém lhe queira dar importância para poder reclamar do sucedido.
E como ela não é chefe de nada, mal não faz em pensar nas suas próprias convicções, as quais não levam mal a ninguém e até são partilhadas pela maioria portuguesa (na qual não me incluo).
Este comentário parece-se com a notícia importantíssima de ontem ou anteontem do Correio da Manhã (1ª página) que dava conta do "problema" da celulite, do qual nem Nereida escapa.
Nem se entende bem onde quis CBE chegar com esta indignação.

3 de julho de 2008 às 13:33  
Blogger GMaciel said...

Quer-me parecer - e quem sou eu? - que não será tanto a pepineira resultante deste pedido de "bênção especial" que dá comichão, mas a eterna hipocrisia que subjaz a este tipo de beatitude.

Explicando antes que me dêem com uma cadeira na cabeça; ninguém é santo para que se lhe possa exigir uma atitude mundana coerente com as suas crenças, mas é ridículo que alguém tenha a pretensão de, por momentos, vestir essa pele.

4 de julho de 2008 às 12:16  

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