Técnicas de memorização

Por Nuno Crato

ATENTE O LEITOR neste número: 712797239. Olhe-o durante um segundo e tente decorá-lo. Provavelmente não o consegue. Olhe de novo para o mesmo número, mas partido em pedaços: 712 797 239. É muito provável que agora o consiga.

O que fazemos, quando reorganizamos assim a informação, é seguir uma técnica que em psicologia se chama «chunking». Aglomerando os dígitos em pedaços («chunks»), obtêm-se pequenos grupos de números que são muito mais fáceis de memorizar do que dígitos seguidos. É um processo que os adultos usam para escrever e memorizar os números de telefone, por exemplo. O que agora se descobriu é que esse procedimento é utilizado nas idades mais tenras, mesmo ainda antes da aquisição da linguagem.

Dois investigadores da universidade Johns Hopkins mostraram a vários bebés quatro objectos e meteram-nos numa caixa que fecharam à vista dos catraios (PNAS, 105-29). Deram-lhes depois a caixa fechada e deixaram-nos procurar os objectos, contando o tempo que demoravam a dar-se por satisfeitos com a procura. Compararam vários casos: quatro objectos indiferentes e quatro objectos organizáveis — por exemplo, dois gatos de peluche e dois carrinhos. Numas vezes davam-lhes a caixa sem nela mexerem, e os bebés recuperavam todos os objectos que tinham visto. Noutras vezes tiravam da caixa alguns dos objectos sem que os bebés reparassem, e contavam o tempo que eles demoravam a procurar os objectos em falta. Nestes últimos casos, verificaram que os bebés conseguiam dar pelas faltas desde que os objectos fossem organizáveis mentalmente e eles pudessem fazer «chunking».

Não somos tão adultos quanto isso, afinal, quando agrupamos os dígitos dos números telefónicos.

«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 2 de Agosto de 2008