Esquecer os amigos
Por Alice Vieira
MORREU a Isa Meireles.
Há quatro dias.
Com direito a um obituário rigorosamente igual em toda a parte: jornalista, começou no “Diário Ilustrado”, andou pelo “Diário de Lisboa” e “Capital”, estava reformada, passava dos 70, morreu de repente.
E fico cheia de remorsos porque, durante anos, a Isa Meireles fez parte do meu quotidiano e agora, ao ler a notícia tão breve da sua morte, dou comigo, sem querer, a murmurar: “julgava que já tinha morrido.”
De repente, ou porque a nossa vida se modifica, ou porque o trabalho nos desgasta, ou porque escolhemos caminhos diferentes, ou sei lá porquê, vamos esquecendo pessoas que nos pareciam imprescindíveis, com quem privámos no trabalho, com quem nos cruzámos diariamente, vamos desabituando a nossa boca de pronunciar os seus nomes, vamos esquecendo o som das suas vozes.
Gostava de saber em que momento da minha vida comecei a esquecer a Isa Meireles, mas não sei. Sei que durante anos nunca pensei nela, e agora, quando de repente o seu nome regressa à minha memória, só me vem à boca aquela frase terrível: "julgava que já tinha morrido".
(...)
Texto integral [aqui]
«JN» de 31 de Agosto de 2008
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