16.11.08

À desgarrada

Por Nuno Brederode Santos
ANTES QUE A MEMÓRIA ME SEJA CONFISCADA, recordo aqui o jogo do rato e do gato que todos, em grau maior ou menor, fomos obrigados a travar com a Censura até 1974. Vivíamos vésperas, entre a ironia e a angústia, antecipando aquelas deslocações ao Bairro Alto, as quais, de facto, valiam bem a insónia que causavam. Depois, chegados lá, muitas vezes nos entregavam as prosas arrasadas pelo lápis azul, com grande sobriedade administrativa: era uma mera operação de “guichet”, como a compra de bilhete na estação dos comboios. Porque o desclassificado funcionário que nos atendia nada sabia, nem podia, explicar. Era assim o corte do censor mau. Outras vezes, porém, davam-nos o direito de acesso a um qualquer militar reformado, mas senhor do latinório de bolso que permitia, não discussão, mas algumas – generosas – explicações para as largas manchas azuis nas provas de página. Não esquecerei a surpresa que partilhei com o Mário Sottomayor Cardia, aí por 1964. Pedindo nós explicações para os cortes quase integrais numa série de artigos, sem os quais estaria em risco a publicação atempada de uma edição mensal da “Seara Nova”, fomos conduzidos ao gabinete de um coronel reformado que, enquanto se desdobrava, embaraçado, em argumentos trapalhões, quis provar-nos ser também ele um homem de letras e ofereceu-nos um seu livro de poemas. Um caso comovente de censor bom.
(...)
Texto integral [aqui]

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2 Comments:

Blogger Táxi Pluvioso said...

A Sr.ª Leite é muito engraçada. Aliás, é um dom nacional: o "engraçadorismo". Estou curioso com a sua votação nas próximas eleições para rir ainda mais.

Portugal só estabilizará com a entrada dos dois submarinos, (ainda não percebo porque um não se chama "Portas" e o outro "Paulo"),na barra do Tejo.

16 de novembro de 2008 às 14:04  
Blogger R. da Cunha said...

Já nem sequer merecemos um líder da oposição capaz? Isto está mesmo mau!

16 de novembro de 2008 às 17:25  

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