27.1.09

Quantas cabalas cabem num metro quadrado?

Por João Miguel Tavares
ACHO NOTÁVEL o tempo que em Portugal se perde a discutir o timing das notícias. Esta coisa do Freeport, estão a ver?, só existe porque estamos em ano de eleições. Apareceu em 2005. Agora aparece em 2009. Estão a ver, não estão? É mais uma cabala. Uma urdidura. Uma "campanha pessoal". É isso que José Sócrates não se tem cansado de pregar, logo secundado pelo ministro Augusto Santos Silva, que após as suas últimas intervenções merece passar a ser tratado pelo cognome de Platónico Augusto, tal é a forma como dia após dia o seu pensamento se vai confundindo com o do mestre.
Pois deixem-me que vos diga: estou-me bem nas tintas para o timing das notícias. Comove-me muito pouco que estejamos em ano de eleições. O que eu quero mesmo saber é se as notícias são verdadeiras ou se são falsas.
(...)
Texto integral [aqui]
NOTA (CMR/JMT): em colaboração com João Miguel Tavares, serão premiados os dois melhores comentários que aqui sejam feitos a esta crónica até às 20h da próxima sexta-feira. Os prémios serão: o livro cuja capa aqui se vê e «Ficções», de Jorge Luís Borges.
Actualização (31 Jan 09/12h): Consultadas três pessoas (entre as quais o autor da crónica), os resultados foram os seguintes: Rui Silva, 3 votos; ART, Tuga Man e Mister P, 1 voto cada um. Pede-se pois, aos quatro que, nas próximas 48h, escrevam para sorumbatico@iol.pt indicando morada. Quanto aos prémios, a sua distribuição será feita assim: Rui Silva dirá se prefere o livro que aqui se vê ou o alternativo. Os outros, receberão o livro que sobra ou o «Ficções». Obrigado a todos!

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12 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

'Dicas' para discussão:

1- Quando, ultimamente, este assunto veio à baila, a primeira reacção não foi sobre os factos em si mesmos, mas sim sobre o facto de ter havido notícia.

2- A síndrome do mensageiro.

3- Provérbio chinês (?):
«Quando alguém aponta para a Lua, o tonto olha para o dedo».

27 de janeiro de 2009 às 13:44  
Blogger mister p said...

O comentário político no nosso país vive intimamente ligado com a intriga, a inveja, o assassínio de carácter. Isso é que vende notícias. Certamente se o prof. Cavaco estivesse à beira de eleições estaria agora a elite pseudo-intelectual a discutir a sua imputabilidade e a negar-lhe a virgindade política no caso BPN (de facto a família não se escolhe mas os amigos sim...)
Nestes casos de "publico linchamento sumário" o mensageiro é quase sempre parte interessada e quando se afirma o primado da liberdade e dever de informação está afinal a falar-se de corrupção das "fontes" e dos compadrios gerados pelo "sistema".

27 de janeiro de 2009 às 16:12  
Blogger Carlos Antunes said...

Quando alguém aponta para a Lua, o tonto olha para o dedo.
E o esperto olha para a mão a que ele está agarrado, acrescento eu.
As provas não estão na grandiosidade do que é apresentado nem na certeza do dedo que aponta o "espectáculo".
As provas acabarão por se encontrar ligadas aos que tanto apontam, seja da sua culpabilidade de alguém (que eles prenunciam) ou do simples trompe l'oeil que pretendem gerar.
Sejamos honestos, se ninguém espera que haja honestidade ou cavalheirismo nos tempos presentes, então niguém pode dar demasiado crédito a estes rumores, até porque a Justiça prenuncia que todos os homens são inocentes até prova em contrário, embora o mediatismo tenha invertido os conceitos nessa expressão.
Claro que se devem passar os argumentos de pura retórica que nos levam o olhar para o possível escândalo Alcochete e e os que de seguida nos atiram areia para os olhos para que não o vejamos em concreto. Mas as explicações não podem ser apenas exigidas ao Primeiro Ministro - embora deva ser dele o esforço maior para se ilibar e assim deixar imaculada a consideração que dele fazem os que o elegeram, os que não o elegeram e os que espreitam além fronteiras.
Na verdade, se há provas, quem as tinha deverá ser questionado simultaneamente sobre o porquê de não as ter apresentado atempadamente e a quem de direito ou de ter sido necessário permanecer anónimo.
Sejamos cínicos, mas sejamo-lo para todos os lados, que se uns são canalhas, os outros são-no também.

Agora, que o Primeiro Ministro, os seus familiares, uns engenheiros daqui e de além têm todos de dar uma explicação única, satisfatória e credível, têm.
Têm de deixar de atacar a imprensa, pois eles próprios sabem usá-la em sentido contrário.
Têm de deixar de se fazer de vítimas pois a um tempo também foram os atacantes.
E têm de deixar de esperar que a notícia que passa 10 minutos depois nos faça esquecer o que aconteceu.

27 de janeiro de 2009 às 16:43  
Blogger Unknown said...

Um outro provérbio, português creio, diz que “quem cala consente”.
Foi notícia o vídeo incluído no processo que corre em Inglaterra em que Charles Smith, sócio da consultora Smith & Pedro, em conversa com um administrador inglês da sociedade proprietária do espaço comercial do Freeport, em Alcochete, implica de forma explícita um ex-ministro do governo de António Guterres no pagamento de “luvas” para a viabilização do projecto. A notícia em si é um facto seja ela verdadeira ou falsa o que espero se venha a apurar.
É estranho que nenhum ex-ministro do governo em causa venha a terreiro defender a sua honra, nomeadamente, exigindo o apuramento da verdade. Este mutismo revela a admissão por todos os ex-ministro da possibilidade de qualquer um dos outros ter recebido “luvas”, ou por outro lado, estão silenciosamente “a por as barbas de molho quando vêem as barbas do vizinho (entenda-se ex-ministro do ambiente e actual 1º ministro) a arder”.
Estranho também é o facto, e estando Charles Smith em Portugal o que simplifica a questão, as autoridades portuguesas envidem esforços no sentido deste confirmar ou desmentir a notícia e em caso de confirmação apurarem de uma vez por todas o nome desse ex-ministro. Para já vale o parágrafo anterior e todos os ex-ministros são suspeitos de, pelo menos, terem sido corruptos, e dentro desta suspeita está o actual 1º ministro e candidato ao mesmo cargo nas próximas eleições.

28 de janeiro de 2009 às 00:46  
Blogger ART said...

Para mim esta é apenas mais uma situação para que se agudize a repulsa que a generalidade de nós já tem pelos nossos políticos. É que regra geral o nosso drama e por vezes fait-divers político nem sequer qualidade literária tem. É do mais rasteiro. Para esta situação do Freeport de facto temos andado todos eufóricos: é comunicação social, é pessoal dos cafés, é discussão política, nos blogs, em todo lado, então e que dizem os partidos políticos? Ah como gostei da intervenção de Paulo Portas (veio-lhe à memória os submarinos e os sobreiros?) e até msm de Ferreira Leite cujo silêncio estranhei (deve ter também telhados de palha). Uma vergonha.
Claro, o timing, aparte o facto de também se dever explicar o que é feito dessa miragem portuguesa da "celeridade processual" (ela bem que aparece escrita lá nos códigos...), a tese da cabala é obviamente arma de defesa fácil, tentar abafar com uma pretensa evidência. Como li uma vez, Portugal é um país em que somos todos simultaneamente vítimas e culpados, e claro, isso inviabiliza que haja responsáveis.
Claro que Sócrates tem muito explicar, o caso pelos relatos tem muitas pontas soltas: é família, é DLs e despachos no mesmo dia, é a falta de conformidade com as normas comunitárias, e deve-se de facto fazer o debate acerca da pouca vergonha das actuações dos ditos governos de gestão (que também é preciso perguntar se na realidade existem para lá do que vem no papel porque alguém descortina a diferença pelos casos sucessivos de aprovações à última da hora entre o que é um governo de gestão e o em plenas funções?).
Estou, apesar de tudo, confiante na investigação judicial e que claro que responda se tiver que responder, de qualquer das formas isto já começa a ser demais com ele: a situação da licenciatura que nunca percebi se também existia e os papéis da universidade ao domingo ou lá o que era. Bem, parece que com Sócrates os papéis e documentos são todos dotados de estranhas coincidências, que sina a dele e a nossa.

28 de janeiro de 2009 às 19:54  
Blogger ART said...

Queria acrescentar uma ligeira nota, no seguimento do meu post anterior. Ouvi ontem Paulo Rangel no Frente-a-Frente da SICN, pessoa aliás por quem tenho uma grande consideração de âmbito profissional (professor) extensível em iguais termos ao domínio político (inspira-me confiança apesar de parecer como líder parlamentar muito desamparado) a dizer que o PSD não iria utilizar esta situação do Freeport como argumentário político pois que, eis a razão, está uma investigação judicial em curso e há que separar as águas. Fica a dúvida do tratamento do BPN (lá devem ter a desculpa de quererem apurar as responsabilidades da supervisão), mas quando no meu post disse que estranhava o ruidoso silêncio da oposição em geral (excepção feita até agora ao PCP e BE) também não quis dizer que andassem a esfolar-se vivos, em choros de carpideiras e feitos senhores donos de lavandarias muito muito sujas: era tão só que em vez de como PSD e PP fizeram em vez de terem aquela resposta negativa de afastar o assunto, de explicitamente o chutarem para canto, de negarem a tecer considerações, somente lhe conferissem a importância que deve ter, dizerem que José Sócrates tem muito para explicar e que eles próprios, deputados, partidos políticos estão muito atentos, andam em cima do assunto e não deixarão passar nada em branco nos esclarecimentos que são necessários: esta, parece-me, seria a resposta positiva. A outra faz-me uma confusão tremenda.
Já agora, a propósito da entrevista de Diogo Freitas do AmaraL: que deu ao homem?

E nota final: não gostam de Sócrates a utilizar a sua honra e integridade pessoal, a sua dignidade política tão vilipendiada, tão objecto de insinuações "estapafúrdias", não gostam de o ver tão ferido mas a utilizar isso com técnicas de marketing para campanha eleitoral?

29 de janeiro de 2009 às 20:51  
Blogger João Rodrigues said...

Os políticos quando falam em cabala querem desviar as atenções sobre a falta de explicações, que eles não dão. Assim, falam na cabala e em interesses escondidos. Quando os jornalistas perguntam quem está por trás da urdidura, dizem que os jornalistas é que deviam ir investigar isso, em vez de darem as notícias incómodas da cabala. O problema, para os políticos, é haver notícias.

30 de janeiro de 2009 às 14:24  
Blogger Fartinho da Silva said...

O Primeiro Ministro, José Pinto de Sousa, não pode de forma alguma referir-se a uma cabala pelo facto de finalmente os jornalistas estarem a fazer jornalismo de investigação!

Para José Pinto de Sousa - depois do caso das apressadas autorizações de construção de moradias na Guarda, depois do caso da licenciatura, depois do caso das entregas de computadores a todas as crianças de Portugal e da Venezuela sem concurso público, depois do caso do pseudo-estudo da OCDE, entre outros - como pode falar em conspiração ou em cabala de jornalistas?

Será que o povo também pode afirmar que nos casos referidos anteriormente houve uma cabala por parte do governo e seus acérrimos defensores?

Enfim..., parece que estamos no final da 1ª República...!

30 de janeiro de 2009 às 17:45  
Blogger mariazita said...

O País clama por justiça, o País exige que a Verdade venha ao de cima, o País exige Justiça, porque não se admite que Políticos sejam corruptos.

O País grita, esbraceja, fica à beira de um ataque de nervos, enquanto a figura política é indicada pela imprensa como potencial suspeito.

Quando o potencial suspeito passa a suspeito, a fúria passa a ligeira zanga, perante um suspeito, o País sente-se defraudado.

Se na sequência do processo, o suspeito passa a arguido, aí o País sente ainda alguma vontade de justiça, ainda deseja que o Político pague pelo mal que nos fez, por aquilo que roubou.

Mas quando o Político é acusado, aí o País já entra na fase do desinteresse pelo caso, porque tem mais com que se preocupar, e o Político enfim, se calhar até é um vítima do sistema.

Mas, se de acusado, o Político passa a culpado, aí o País passa não só a admirar as qualidades e a esquecer o que levou o Político a ser um dia essa coisa terrível, criminosa que é ser potencial suspeito e passa a ter até um sentimento de protecção da vítima da justiça, do pobre do acusado, atingindo este os mais altos níveis de simpatia e popularidade junto da população.

Neste jardim à beira mar plantado, neste País de brandos costumes vale a pena ser culpado, porque apenas potencial suspeito, enfim, é algo que eu não desejo nem ao meu maior inimigo.

30 de janeiro de 2009 às 17:46  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Aqui vai uma "deixa":

«O português-típico acha que todos os corruptos deviam ser presos, com excepção de três: os da sua terra, os do seu clube e os do seu partido».

30 de janeiro de 2009 às 17:52  
Blogger Mg said...

Antes de mais, julgo que o ressurgimento desta noticia na Comunicação Social não é fruto do acaso, mas sim um abrir de hostilidades para os tempos que se avizinham.

Por outro lado, importa também dizer que se o nosso Primeiro-Ministro se chamasse Manuela, Paulo, Francisco, Jerónimo ou Joaquim, iriam, como é habitual nestas alturas, surgir notícias
eventualmente menos abonatórias acerca dessas personalidades.

É, infelizmente, quase uma tradição no nosso país, razão pela qual o Primeiro-Ministro José Sócrates não terá muita "moral" para vir a público afirmar com
tiques de amargura e desilusão que estas notícias surgem porque estamos no ano em que estamos e,
consequentemente há que denegrir a imagem de quem está no poder, se no caso em questão há matéria
efectivamente "estranha" e há procedimentos que foram adoptados na altura, mas que agora, urge esclarecer!

Se há matéria para investigar, que se investigue até às ultimas consequências!

Investigue a Justiça, usando de todos os meios à sua disposição, e investiguem os jornalistas, pois claro, porque faz parte do seu trabalho e, quer queiramos quer não, é matéria de superior interesse saber com que linhas se cose quem nos governa.

Terá também de compreender o nosso PM que a justiça, por estas bandas, não é tida em muita boa
consideração (os problemas relacionados com o sistema judicial são mais do que evidentes e notórios), da mesma forma que não é muito elevada - na generalidade, entenda-se - a confiança que os Portugueses depositam na classe política.

Porque fartos de casos mediáticos, com provas que afinal não o podem ser porque não foram validadas em
lugar e tempo devido, com fugas para o estrangeiro, salvaguardada já a questão de uma possível extradição, com prescrições que não se percebe muito bem como e porque é que acontece(ra)m, já nós estamos fartos.

E porque - principalmente - estamos em ano de eleições, é natural que os Portugueses queiram ver esta matéria esclarecida até ao mais infimo pormenor, detalhando-se muito bem os "quem", os "quando", os "como" e os "onde".

E se a Justiça tiver de actuar, pois bem, que actue, e que o faça até ao limite máximo previsto na moldura penal aplicável ao caso.

E, além de severa, que seja espalhafatosa, tão espalhafatosa quanto possível, por forma a que daqui a 30 anos todos ainda se recordem do que aconteceu e da punição que o caso (este ou qualquer outro...) mereceu.

Quem sabe, não será esta uma boa forma de deitar sobre a nossa sociedade o sal (recordem-se do que o Padre António Vieira dizia sobre o sal no Sermão de Santo António aos Peixes) que ela necessita?

Comecem a punir-se devidamente os culpados (mas de forma séria e consciente e não com hilariantes penas suspensas) e veremos se os casos de (possível) corrupção não diminuem...

30 de janeiro de 2009 às 19:45  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Comentário chegado por e-mail às 19h24m:

_______

O caso candente e decadente designado por "Freeport "(suponho que
melhorava anexando o termo "Connection") condiciona, actualmente, o
pensamento "do Portugal".
Ele vende-se e, bem.
Ele mobiliza pessoas e entidades de responsabilidade incontestável e,
também outras, que se gostam de ouvir, que sobrevivem ouvindo-se.
Deste caso, apetece-me perguntar, como se fosse um comentário, porque
acho muito importante saber:
- Será que as lojas do "Freeport" de Alcochete ainda estão a vender
artigos a preço de saldo?
Se estiverem, amanhã vou lá; pois quase me esquecia que tal sítio existia.
Depois, aguardarei, consultando os meios de comunicação social, para
saber com vão as "cabalas por metro quadrado", quantas pessoas as
inventaram, quantas delas foram vitimas e, ainda, se alguma é culpada.
Como sou novo e, tenho tempo, vou aguardar pelos saldos de 2013 no
"Freeport" de Alcochete, para tornar a acompanhar o caso.
Lá em Alcochete ou noutro local qualquer.
Até lá continuaremos preocupados em discutir, em julgar na praça
pública, este (e outros) importantes e transcendentes assuntos.
Antes, durante e depois, continuaremos a arengar sobre a saúde, a
educação, a economia, com o mesmo vigor.
"O Portugal" é assim e, os portugueses também.
Como sou, também, português, integro-me na comitiva. Assim.

Rui Silva

30 de janeiro de 2009 às 20:12  

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