7.3.09

Triângulo incandescente

Por Joaquim Letria
AS RELIGIÕES QUE MAIS AJUDAM A VIVER são também as que mais matam. As três religiões dum mesmo Deus único – a judaica, a cristã e a islâmica – não cessam de se encarniçarem contra o infiel (o outro).
A agressividade é fratricida: entre cristãos, temos os católicos contra os protestantes; no Islão temos os xiitas contra os sunitas a ensanguentarem o Próximo e o Médio Oriente.
Mas não se pode confundir o Islão com as suas centenas de milhões de crentes pacíficos com os desvios terroristas minoritários e extremistas.
Na Europa, só há muito pouco tempo acalmaram os ânimos na Irlanda cristã dividida numa temível guerra fratricida ainda em rescaldo, entre católicos e protestantes. Na Bósnia pós Tito nem todos os combatentes mostravam a faixa germânica de “Got mit uns” (Deus connosco), mas a mesma certeza armava um lado e o outro da matança.
A vertente terrorista cauciona com um sim divino os conflitos profundamente humanos. Sacraliza a luta dos muçulmanos contra os hindus na península indiana, entrega o estandarte do Profeta aos palestinos radicais do Hamas, fermenta as misérias e, na Indonésia ou em África, mescla as clivagens étnicas que o colonialismo agravou ou endureceu. Um pouco por toda a parte revigora a hidra das mil cabeças da Al Qaeda na sua aversão pelo Ocidente, nos seus ritos e nas suas obras.
A nebulosa terrorista concentra-se num triângulo de pesadelo: Kabul, Islamabad e Teerão. O Afeganistão vive uma guerra imparável e sempre latente, o Paquistão com a bomba nuclear e o Irão a desejar ter a bomba.
Com os políticos e diplomatas atascados na crise financeira e económica, como vão eles tratar deste triângulo incandescente?! É ali que Barack Obama vai ter a sua prova de fogo, não tenhamos dúvidas.
"Mais Alentejo" – Março 2009

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