Maia
Por João Paulo Guerra
Entrevistei Fernando José Salgueiro Maia dois meses antes da sua morte e nunca mais esqueci a sinceridade, a autenticidade e a pureza que transpareciam das palavras do capitão.
AQUELE FOI UM DOS HOMENS que fez uma revolução, arriscando a vida para devolver a liberdade ao povo, e não reclamou nem quis nada para si. Mas a revolução foi ingrata: um revolucionário não tem que ser recompensado pela revolução mas é injusto que seja lesado. E Salgueiro Maia morreu no posto de tenente-coronel, depois de cumprir um final de carreira em bolandas por ter sido corajoso e abnegado. Não ia em grupos, não era de panelinhas, pelo que recebia coices de todos os quadrantes. E o mesmo governo que lhe cortou as pernas à carreira militar recusou uma pensão à viúva. Diz-se que as revoluções devoram os revolucionários mas no caso de Salgueiro Maia quem o devorou foram reaccionários de todos os matizes, de direita e esquerda, porque um homem que não quer nada para si é um péssimo exemplo numa sociedade alimentada pela ganância e movida por esquemas.
Ao ler notícias sobre os jogos florais do PS e parte do PSD para fugirem a uma questão tão clara e essencial como a criminalização do enriquecimento ilícito, ao ouvir a procuradora Maria José Morgado dizer que a corrupção ao mais alto nível do Estado é, neste momento, quase incontrolável, recordo uma frase da entrevista de Salgueiro Maia: "Não foi para isto que se fez o 25 de Abril". Pois não. Mas foi para isto que se segregaram e de alguma forma puniram alguns dos mais generosos capitães de há 35 anos. Com o capitão Salgueiro Maia, à cabeça da lista.
Alguns dos que tramaram Salgueiro Maia andaram por aí a pavonear-se nos 35 anos da reconquista da liberdade.
«DE» de 27 de Abril de 2009
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