Programas para crianças
Por Alice Vieira
AQUI HÁ DIAS os jornais trouxeram o resultado de um estudo sobre a programação infantil na televisão portuguesa.
Praticamente inexistente, claro.
E dei comigo a pensar na qualidade que tinham os programas para crianças nos idos de setenta e oitenta.
Praticamente inexistente, claro.
E dei comigo a pensar na qualidade que tinham os programas para crianças nos idos de setenta e oitenta.
Recordo-me dos tempos pré-históricos em que, sem condições nenhumas (lembras-te, António Santos, do barracão da Francisco Baía?) se fazia um tele-jornal infantil todas as semanas, com reportagens, e entrevistas, e a participação das crianças (recebiam-se caixotes de correspondência!), a terminar sempre com dois comentadores, como nos telejornais dos adultos, só que aqui eram dois bonecos, o Elias e o Horácio (uma das maiores glórias da minha vida foi um dia ouvir uma criança aos berros “vai ali a mãe do Elias!”). O programa chamava-se “Jornalinho“— e decerto que a Laurinda Alves deve ter muitas saudades dele: lá começou, uma quase miúda que punha o capacete na cabeça e ia de moto fazer reportagens…Depois um dia disseram-nos que o programa já durava há muito tempo, que por nossa causa havia muita coisa à espera — e nós, democraticamente, retirámo-nos de cena. A muita coisa que havia nunca chegou a haver.
E, para lá do “Jornalinho”, que saudades dos telejornais históricos, exactamente como se fossem os dos adultos (pivots em estúdio, correspondentes em vários locais, etc) só que, correspondendo a factos acontecidos nesse dia… mas há centenas de anos. O que nos divertimos a fazer o telejornal do dia em que Vasco da Gama chegou a Lisboa, com a jornalista de microfone em punho atrás dele e ele só a responder “ó minha senhora, eu quero é ir dormir, que estou estafado!”
Era no tempo em que a Maria do Sameiro Souto estava à frente do departamento. E, a seu lado, a Maria Alberta Menéres. E tudo era tão diferente!
E depois foi o tempo das várias séries da “Rua Sésamo” – e como é bom ouvir hoje muitos adultos dizerem “aprendi a ler com a Rua Sésamo”. Gente do teatro como Alexandra Lencastre (que de certeza nunca teve público mais rendido aos seus encantos do que os miúdos que a conheciam por “Guiomar”), Fernanda Montemor, Fernando Gomes, Pedro Wilson e tantos outros marcaram presença diária junto das crianças.
Depois um dia também isso acabou. Ficava muito caro e, como a taxa da natalidade estava a diminuir, não era rentável. (Não se riam, mas palavra que foi a justificação que um responsável me deu…)
E pronto, a partir daí foi mais ou menos um deserto, às vezes com um ou outro lampejo, que raramente vai além disso.
E pronto, a partir daí foi mais ou menos um deserto, às vezes com um ou outro lampejo, que raramente vai além disso.
É assim que se chega aos “Morangos com Açúcar”…
«JN» de 11 de Abril de 2009
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