1.5.09

O Português da guerra

Por Joaquim Letria
O QUE MUITO ME PRENDE à excelente série do Joaquim Furtado é o Português que ali se fala e o que esse idioma, assim articulado e pronunciado por africanos que combateram ao nosso lado ou contra o colonialismo português, nos põe a pensar.
Nem todos, guerrilheiros, “Flechas”, oficiais do Exército, administradores da potência colonial, angolanos, moçambicanos, guineenses, cabo-verdianos e portugueses aprenderam Português em Portugal. Mas, independentemente do sotaque, em muitos casos imperceptível, aquela gente fala como hoje, infelizmente, é difícil encontrar quem fale.
Parece um som de antigamente. Mas não é isso que prende. O que agarra é que vivendo nós nesta asfixiante falta de vocabulário grunhido, do presente, ouvirmos português bem falado, vocábulos raramente pronunciados, frases impecavelmente construídas, comove. Tenha aquele Português sido ensinado na escola do posto, na mata ou na cidade, praticado na Casa dos Estudantes do Império ou no Instituto de Política Ultramarina. Se reaprendêssemos aquele Português…
«24 Horas» de 1 de Maio de 2009

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