24.7.09

Afinal há paraíso

Por Joaquim Letria

O NEW YORK TIMES dedicou grande espaço à aldeia de Marinaleda porque é o único sítio onde ninguém está desempregado nem deve dinheiro ao banco. O alcaide comunista Juan Manuel Sanchez Gordillo, eleito há 30 anos, explica: “Aqui constrói-se com o programa municipal e sem hipotecas. Se um residente perde o emprego, a cooperativa contrata-o. Ninguém aqui tem falta de trabalho”. Único, no coração duma Andaluzia com 21% de desemprego.

Com trabalho e habitação resolvidos, Marinaleda atrai muita gente de fora. Com uma população de 2.700 pessoas, não tem polícia, o que poupa 350 mil euros à municipalidade. Às vezes os paços do concelho anunciam pelos altifalantes “domingo vermelho”, o que significa necessidade de gente para trabalho comunitário extra: pinturas, limpeza, arranjos, etc.

Durante uma hora, cada domingo de manhã, Sanchez Gordillo de lenço palestino ao pescoço defende causas e lê poemas na TV local. As causas vão da luta aos transgénicos à independência do povo Sarawi, no Sahara Ocidental.

Nem todos gostam dele. Hipólito Aires, militante do PSOE, é quem mais o critica: “Aqui vive-se na revolução permanente” e diz que Marinaleda vive à custa dos dinheiros do PSOE.

Salvador Becera, antropólogo de Sevilha, reconhece a igualdade social de gente que estava por educar mas critica a aposta na lavoura por achar que o futuro está na indústria e nos serviços. O alcaide está-se nas tintas: ”Se cada quatro anos há mais gente a votar em mim, devo estar a fazer alguma coisa certa”.

«24 horas» de 24 de Julho de 2009

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