4.7.09

Sucupira

Por João Paulo Guerra

A discussão sobre o calendário eleitoral prolongou-se no tempo mas, no final, da discussão saiu a luz, porém intermitente. Ou seja, a solução foi aplaudida por todos, o que quer dizer que não agradou propriamente a ninguém.

DISCUTIA-SE A SIMULTANEIDADE ou não das legislativas e autárquicas, apenas com o PSD a preconizar eleições no mesmo dia. A solução rejeitou a simultaneidade mas foi o mais parecido possível com actos eleitorais simultâneos. Os portugueses não vão a votos para legislativas e autárquicas no mesmo dia mas... com duas semanas de diferimento. Quer isto dizer que a campanha eleitoral para as autárquicas começa antes mesmo do apuramento final dos votos das legislativas. Ou seja: entre as legislativas e as autárquicas, ainda não se saberá quem vai encomendar o traçado do TGV mas já se estará a discutir a promessa do túnel ou do chafariz.

Ou, calhando, não vai discutir-se nada disso. Nas europeias arengou-se sobre quase tudo, menos sobre a Europa. E um candidato do partido do Governo, em campanha para Estrasburgo, chegou a pedir maioria absoluta para São Bento. A redução das eleições a meros concursos de promessas ou zaragatas de baixa política é o degrau mais rasteiro da perversão da democracia e da sua essência: a escolha por eleição, votando. Não ganham os credores de mérito e confiança, mas os campeões do zaragateio e os lidadores de aparências. Mais abaixo que isto só a chapelada. Mas até para a chapelada já não falta tudo à desvalida e maltratada democracia portuguesa. O Governo acaba de reconhecer que há pelo menos dois mil eleitores com dupla inscrição nos cadernos eleitorais. É preciso, imperioso e urgente lançar e defender a palavra de ordem: Portugal não será a Sucupira da Europa.

«DE» de 3 de Julho de 2009

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