«Acontece...» - Convite à sua criatividade
Por Carlos Pinto Coelho
Há nesta imagem muito da nossa História.
Que estórias lhe desperta esta fotografia?
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Que estórias lhe desperta esta fotografia?
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Escreva o que lhe apetecer (até às 20h de sexta-feira, dia 21 Ago 09) e candidate-se a receber um bom livro como prémio.
Actualização (22 Ago 09/11h20m): o júri decidiu atribuir o prémio a Paulo, que tem 24h para contactar sorumbatico@iol.pt, indicando morada.
Actualização (22 Ago 09/11h20m): o júri decidiu atribuir o prémio a Paulo, que tem 24h para contactar sorumbatico@iol.pt, indicando morada.
Etiquetas: CPC
10 Comments:
Barco "Gil Eanes", antigo "Lahneck" pertencente a uma companhia alemã. Foi requesitado pelo governo em 23 de Fevereiro de 1916, sendo batizado dias depois com o nome de um dos homens que revolucionaram a historia: Gil Eanes! Foi um barco "todo-o-terreno" que no inicio serviu para transporte de tropas para a guerra, foi depois fretado para os transportes maritiomos servindo carreira nos açores. Em 1927 foi adaptado a navio de assistencia á pesca nos bancos da terra nova e com a revolução de 28 de Maio foi empregue no transporte de presos. Em 1941 passou a dar apoio regular aos pescadores de bacalhau.no ano seguinte foi desarmado e entregue á Sociedade Nacional de Armadores do Bacalhau onde efectuou 27 viagens fornecendo água, óleo, carvão, isco sal e alimentos á frota bacalhoeira. Depois o velho Gil Eanes transformou-se num navio hospital para prestar assistencia medica aos pescadores de bacalhau. Em 1915 foi remodelado nos estaleiros vianenses.Chamado de "mesericordia do mar", nesta fase o barco era dotado de cameras frigorificas, uma inovação na epoca, para o fornecimento de alimentos frescos. Segundo dizem foi tambem rebocador, sava-vias e quebra gelo. fez a sua ultima viagem á terra nova em 1973, onde fez tambem uma viagem diplomatica ao Brasil. depois disso deixou de ser utilizado...Fez umas viagens á Noruega para de lá trazer bacalhau nas arcas frigorificas e trouxe refugiaos de Angola. Foi passado de cais para cais até se anichar no cais da Rocha onde foi vendido para abate á empresa Batista e Irmãos. Foi resgatado ao sucateira comissão Gil Eannes, que posteriormente foi transformada na fundação Gil Eannes, que transforma o navio em museu, abrindo as portas ao publico em 1998. Um navio lindissimo, ao qual aconselho um visita já que muita gente não sabe das historia deste barco que é um pedaço da história de Portugal
NOTA: Mais informações sobre este navio podem ser lidas [aqui]
Olá.
Não sei se é permitido, mas eu tomei a liberdade de aceitar este convite para contar uma história publicando-a no meu blog:
http://totodacabeca.blogspot.com/2009/08/o-navio.html
Se não aceitar a participação desta forma, diga-me para que email tenho de enviar a história ou se tenho de a publicar aqui fazendo um comentário a este post.
Aguardo indicações. Obrigado!
Paulo,
Os textos a concurso deverão ser aqui afixados.
Certo, Carlos. Aqui vai então:
"O Navio"
Viana do Castelo, 23 de Outubro de 1915
Depois de ter caído num marasmo que se prolongou durante vários anos, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo voltavam a ter um movimento como nunca fora visto antes.
João passeava por ali todas as manhãs como era seu hábito. Era um vianense desempregado, solitário, faminto, mas tranquilo que caminhava calmamente pisando o chão húmido do Porto de Viana. Dizia que “passeava os seus pensamentos” como ele gostava de contar aos seus poucos amigos da Tasca do Tone Manel, que ficava ali bem perto.
João parecia que renascia com a chegada de cada novo barco. Quase todos os dias atracavam pequenos e grandes barcos para serem ali reparados.
A Europa estava em guerra e Portugal inteiro sussurrava à boca pequena que o envolvimento do país seria inevitável. João não queria saber disso para nada... e concentrava-se apenas nos seus barcos.
Toda aquela agitação e espanto de João foram fortemente abaladas com a chegada naquele dia de um enorme e imponente navio branco vindo de Lisboa: o Gil Eanes.
Dizia-se por ali que vinha para ser remodelado e que ira ser uma tarefa gigantesca.
João, que já tinha contemplado inúmeras embarcações em Viana, nunca tinha visto nada assim. À sua frente estava uma verdadeira “pérola branca deslizante dos oceanos” como contou visivelmente entusiasmado ao final da tarde na tasca: “É o maior e mais bonito barco de Portugal!” sentenciou para espanto de todos.
A sua curiosidade aguçada pela necessidade levou-o a pedir, uma vez mais, emprego nos estaleiros. Queria muito ajudar nas tarefas de remodelação do Gil Eanes e daquela vez teve sorte. Foi aceite e isso mudou a sua vida para sempre.
Começou a trabalhar de imediato sob a ordem e orientação do Mestre António, pessoa com ar carregado, pele morena e ar triste. Era um homem do Mar, de poucas falas, mas confessou a João no dia seguinte que era viúvo e não tinha filhos. João gostou daquele velho, apesar das exigências e reclamações constantes de Mestre António. De certo modo, ambos eram parecidos no carácter.
Certo dia, quando a cumplicidade e a confiança entre ambos estava já cimentada, fruto de tantas e tantas horas passadas juntos naquele navio a trabalhar, Mestre António convidou João para ir com ele na primeira viagem do Gil após as obras de remodelação. João ficou atónito e não conseguiu disfarçar o pasmo. Ele que estimava o regresso à sua vida antiga logo após o termo daquele trabalho, decidiu agarrar a oportunidade e, sem se importar com o destino da viagem, perguntou excitado: “Sim Mestre, partimos quando?!?”. Mestre António sorriu pela primeira vez em muitos anos…
No dia da partida, não se despediu dos seus poucos amigos da Tasca do Tone Manel. Deixou um bilhete por baixo da porta às 4 da manhã com os seguintes dizeres:
“Vou passear os meus pensamentos para uma terra longe. Voltarei um dia. Guardem o melhor vinho para me receberem de volta, malandros! Assinado: João”e partiu no Gil Eanes rumo a terras que nunca João calculou ou imaginou que um dia pudesse vir a conhecer…
Em Viana, junto ao porto e na Tasca do Tone Manel, nunca mais ninguém viu ou ouviu falar do João, que ficou conhecido naquelas bandas como o aventureiro da Viana que partiu no grande barco branco rumo a paragens desconhecidas e cuja sorte ou destino se desconheciam.
A imagem, tão depurada e com tanta carga simbólica, fez-me lembrar uma balada belíssima e inesquecível que só quando a minha juventude se tornou passado, compreendi completamente:
''...Ei-los que partem,
velhos e novos
contando histórias
de lá de longe,
onde o suor, se fez em pão,...''
Grande e
Inquebrável
Lembrança de
Épicas
Aventuras
Nessas
Epócas
Sagradas
Épocas e não epócas, como é evidente...
Esta semana não foi fácil. Tenham paciência :)
A pesca, o trabalho desumano, a poesia, a saudade, o fado da ausência, o bacalhau! Tudo nos acode à mente com esta imagem, mas a dúvida que fica é se há mais sal no mar semeado por lágrimas portuguesas ou espalhado pelo bacalhau salgadinho de que todos gostamos...
Madrugo.
Como em todos os dias, nesta minha casa flutuante, levanto com as andorinhas, que por cá galinhas só para jantar em dia de festa.
Os homens preparam para sair. Apetrecham os botes, preparam a ferramenta e calçam as botas sobre camadas de meias - com o frio não se brinca, e aprenderam a ter amor aos dedos dos pés que ainda lhes restam.
O dia amanheceu manso. Partem descansados, um bote após o outro, com a única certeza de um dia de trabalho pela frente.
O dia passou e com ele passou o bom tempo com que nasceu. Cresce nele uma tempestade que os serviços meteorológicos não previram. Os homens não foram avisados...
Mas foram voltando. Antes do que seria habitual, com menos pescado do que seria de esperar, mas inteiros e prontos para um novo dia.
Contam-se cabeças e faltam pelo menos 2. Contactam-se barcos que navegam ao largo, procuram-se os homens no que nos é possível em pleno vendaval, reza o cozinheiro que estudou para padre e praguejam os homens pelos compadres que o mar não quer devolver... E eis que se avista em bote ao largo, pelas ondas maltratado, mas que nos consegue alcançar.
Trás com ele o outro marinheiro perdido, com um grande pedaço de madeira a atravessar-lhe a coxa, resultado do despedaçar do seu bote em plena tempestade.
Esta é a minha deixa. Na pequena sala de 'cirurgia' na cave do navio, percebe-se que não há uito a fazer. Vasos lesados e alto risco de infecção. Se não a cortar é gangrena na certa.
Sem muita pena, com a certeza de lhe estar a salvar a vida, corto ao homem algo que não lhe vai permitir voltar a bordo... Não sei que será dele depois... Sei que viverá.
Um dia entre muitos. Menos um bote, menos uma perna, mas as mesmas vidas. Como diria minha mãe "do mal, o menos!". E amanhã, homens de coragem, voltarão a pescar. Voltarão a este mar.
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