2.8.09

Península

Por João Paulo Guerra

De vez em quando lá vem à baila a questão da União Ibérica o que serve para entreter os portugueses numa discussão sobre o umbigo da Península, em vez de discutirem, por exemplo, porque é que os combustíveis são mais baratos para os espanhóis.

DESTA VEZ, PORÉM, a discussão não assenta na mera expressão de uma opinião pessoal - seja do escritor José Saramago ou do ministro Mário Lino - mas em números. E é assim que ficou a saber-se que quatro em cada 10 portugueses queriam ser ibéricos, isto para não dizer que queriam ser espanhóis.

Decerto que sentimentos destes flutuam muito conforme as circunstâncias. Se o Dantas era português, José de Almada-Negreiros queria ser espanhol. Pim! Também se viu, aqui atrasado, que não cessa de aumentar o número de nacionais que têm vindo a abandonar Portugal. E que o consumo de antidepressivos em Portugal disparou desde 2002. Em suma, há uma enorme quantidade de portugueses que estão fartos do fartote em que o país se tornou e que, do sono hipnótico ao casamento com Espanha, estão por tudo que os faça esquecer a tristeza em que vivem ou sonhar com um vislumbre de mudança.

A Península é uma realidade geográfica. Basta olhar para o mapa. E é uma identidade física que a política retalhou. Os catalães, os bascos, os galegos, são tão espanhóis como os portugueses. Mas vá lá alguém dizer - sem ser apodado de Miguel de Vasconcelos e ameaçado de defenestração - que Portugal seria seguramente mais desenvolvido e até mesmo mais independente se fosse um Estado de uma Federação Ibérica.

Mas não se atormentem os anti-iberistas pois a União é uma utopia a que a maioria dos castelhanos se opõe. Pensam que Portugal representaria uma carga de problemas. Calhando têm razão.

«DE» de 31 de Julho de 2009

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2 Comments:

Blogger dorean paxorales said...

Calhando mais valia discutirem porque a taxa de desemprego é mais alta para os espanhóis (17%, no momento).

3 de agosto de 2009 às 15:05  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Há alguns anos, o governo espanhol resolveu deixar cair as empresas não-viáveis.

A ideia foi proceder a uma espécie de "poda de ramos secos", relançando a economia na base das empresas competitivas, mesmo à custa de um grande desemprego (que chegou aos 20-25%!).

Se procederam bem ou não, é outro aspecto.

Já estou como diz um amigo meu:

«Não sei se está bem, ou está mal. Direi mais tarde, em função dos resultados».
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3 de agosto de 2009 às 15:26  

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