30.9.09

Aqui há fantasmas

Por João Paulo Guerra

Os dados eleitorais oficiais anunciaram que 9,4 milhões de portugueses foram chamados á urnas para escolher o novo Parlamento. Numa população de 10,6 milhões ter 9,4 milhões de eleitores é certamente um recorde mundial de participação política que bem merecia uma entrada no Guiness. A verdade é que 9 em cada 10 portugueses só não votam se não quiserem ou não puderem. O que é extraordinário. Nem o Congo – onde Mobutu chegou a alcançar 104 por cento dos votos – teve alguma vez cadernos eleitorais como os portugueses.
BEM SABEMOS, por um estudo de investigadores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que cerca de um milhão de putativos eleitores recenseados estão mortos, física ou politicamente. Isto é, finaram-se e os cadernos eleitorais não tomaram conhecimento, ou simplesmente não são eleitores nem elegíveis, por razões etárias ou outras. São os chamados eleitores-fantasmas, numa alusão às almas do outro mundo que “votavam” nas “eleições” do ditador santa-combense. O que é certo é que, mesmo sem responder à chamada, os fantasmas ainda hoje desempenham um papel na política portuguesa. Por exemplo, pesam na determinação do número de deputados de cada círculo eleitoral. Para além dos eleitores há também os partidos e políticos fantasmas. É a isso que se chama o espectro político. E os eleitores-fantasmas também adulteram os valores da abstenção que, sem contar com eles, seria substancialmente mais baixa.

Os jornais estrangeiros, que não percebem nada do que se passa neste País de Maravilhas, consideraram os resultados das eleições “ensombrados" pelos elevados níveis de abstenção. Mais correcto seria considerar os resultados “assombrados” pelos eleitores-fantasmas.

«DE» de 29 de Setembro de 2009

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1 Comments:

Blogger Luís Bonito said...

Efectivamente o número de eleitores também me chamou à atenção.
Os dados da CNE confirmam esse número. Mas os números indicados para a Europa - 99.496 eleitores, e fora da Europa - 107.509 eleitores, parecem-me muito pequenos.
Encontrei este link (http://www.dgaa.pt/livro/pdf/cap_02_03.pdf), fiz as contas e em 2001 (ao que julgo ano do último recenseamento da população) havia sensivelmente 8,7 milhões de eleitores.
O INE estimou para 2008 uma população de 10 627 250 (Continente e Ilhas) sendo 1 622 991 de idade até aos 14 anos ( que pode dar uma ideia aproximada do valor dos não votantes).
Daqui talvez se possa concluir que os fantasmas se deixam recensear mas não existem, alguns até devem ter peso orçamental.

1 de outubro de 2009 às 07:57  

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