14.9.09

A verdade e o anúncio

Por Joaquim Letria

OS DESEMPREGADOS estão encantados com Sócrates. Aquilo que nele mais apreciam é o manejo artístico dos paliativos prometidos. Mas este caso deve inscrever-se numa rubrica mais ampla que é a da “verdade”, hoje categoria quase marginal na política nacional.

Penso que PS e PSD se preparem para celebrar os 30 anos da publicação de “La condition post-moderne”, de Jean François Lyotard com uma exaltação bizarra do relativismo mais descarnado e relacionado com a campanha em curso: “nada é verdade, nada é mentira, tudo depende do lado pelo qual se vê”.

“Tudo se pode interpretar”, recitam os mensageiros. Voltamos assim ao tempo dos sacerdotes que liam as entranhas dos cordeiros antes de enviarem uma mão cheia de pobres diabos para o sacrifício. Agora mandam muitos mais…

O importante é lançar as manchetes, conseguir grande atenção debaixo dos holofotes, confortar as almas, pôr o Vangelis do outro a combater o pessimismo e a contagiar sorrisos.

Depois, é a mesma arte de sempre: venderem pastel por empada e mudarem rápido de página. Quando encararmos o vendedor, já este partiu para outra. Ele sabe que o importante é o anúncio! E até dia 27 de novo assim será!

«24 horas» de 14 de Setembro de 2009

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