25.10.09

A crise acabou!

Por António Barreto

“O SOL E O REI não se olham de frente”! Esta frase é atribuída a Luís XIV, o Rei Sol. Não sei se é verdade ou não. Mas a frase encerra conteúdos inesperados. Não se olha, porquê? Queima? Mata? Cega? Deve então fazer-se o quê? Curvar a cabeça? Olhar para o chão? Fechar os olhos? Enterrar a cabeça na areia? Obedecer? Verdade é que os sentimentos que esta frase provoca não são necessariamente os melhores. Medo em vez de curiosidade. Subserviência em vez de respeito.

Qualquer destas consequências tem efeitos medonhos. Não se pode satisfazer a curiosidade. Não é possível resistir, olhar de frente ou reagir. Nem ficar dignamente de cabeça levantada. (...)

Texto integral [aqui]

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3 Comments:

Blogger Manuel Brás said...

O medo do afrontamento
fugindo da confrontação,
tolda o nosso sentimento
em torno da lamentação.

Foi tal a velocidade
de factos negativos,
reivindicando a necessidade
de valores mais intelectivos.

A mudança é exigente,
exigindo uma nova postura,
uma postura inteligente
para reforçar a nossa cultura.

São várias interrogações
sobre o actual crescimento,
sendo de evitar divagações
de total deslumbramento.

Problemas disfarçados
pelo consumo privado,
deixa alguns traçados
de um futuro entravado.

25 de outubro de 2009 às 18:14  
Blogger Rui Fonseca said...

"A crise acabou!"

Não acabou nada. A economia está em convalescença e uma recaída não pode ainda ser descartada.

Além do mais, como bem sabe, em Portugal sofremos de crise dupla (a global e a nossa, privadamente nossa) e esta está longe de ter acabado. Enleou-se na outra mas vai perdurar para além dela.

"as causas acima referidas, em simultâneo, de grande dimensão e a alta velocidade, ameaçaram o fundamento do sistema: a confiança."

É muito evidente que se os depósitos em bancos são multiplicados por estes em créditos concedidos, com maturidades e riscos diferentes; se a confiança desaparece generalizadamente e os depositantes correm a querer levantar o seu dinheiro, o sistema afunda-se irremediavelmente.

Podemos lamentar as vítimas, os mexilhões, mas o mais necessário é pensar como recuperar sustentadamente a confiança e vacinar o sistema.

Como é que isso se faz é que ainda ninguém sabe. Ou sabe mas não sabe como pôr a funcionar.

Há várias propostas. Destaco três.

Uma, de Ron Paul, o candidato libertário, derrotado, à nomeação republicana nas últimas presidenciais. Propõe a eliminação da Fed. Elimina-se a Fed e volte-se ao padrão ouro e acabam-se as crises financeiras e as guerras.

"End the Fed" pode não ser levado muito a sério mas contém algumas afirmações que convém tomar em conta.
Mervyn King, governador do Banco de Inglaterra propõe a separação dos bancos de investimento dos bancos de depósitos. A ideia não é nova, uma ideia parecida já fez o seu percurso nos EUA durante cerca de oito décadas, foi derrogada no tempo da administração Clinton, há quem veja nessa decisão o factor que germinou a crise.

A separação proposta por King foi imediatamente recusada pelo Primeiro Ministro Brown e pelo "chancellor of the exchequer" com o argumento de que tal representaria o fim da banca. (vd artigo de Martin Wolf no Financial Times de 4ª feira passada:"Why curbing finance is hard to do")

http://www.ft.com/cms/s/0/0a8a6362-bf3d-11de-a696-00144feab49a.html

Para Martin Wolf a solução, que ele duvida seja aceite, está em acabar com as operações de alavancagem sobre futuros:
"So long as we allow people to make leveraged bets on the future, breakdowns will occur. The division of finance into utility and casino cannot solve this problem. Only the end of leverage would do so. Do we want that? I doubt it."

Crise, etimologicamente, é também o acto de escolher. É em situações de crise que as rotas se alteram ou não. O 11 de Setembro poderia ter sido um momento de crise susceptível de alterar radicalmente os canais por onde passa o dinheiro do tráfico humano, da droga, das armas, das evasões fiscais. Não foi.
Talvez desta crise não resulte também a criação da vacina necessária. Há sempre quem seja contra as vacinas até porque nem todas as vacinas são fiáveis. Um dia sê-lo-ão. E terão de passar pela imputação dos riscos a quem usufrui das vantagens de quem os assume. O “moral hazard” tem de ter os dias contados. Por enquanto não se sabe quando.

Entretanto, problemática, sem solução à vista, continua a ser a nossa crise.

25 de outubro de 2009 às 18:55  
Blogger Táxi Pluvioso said...

Mas não acabou dizerem que a crise acabou.

26 de outubro de 2009 às 06:48  

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