O Psicólogo
Por Alice Vieira
HÁ MUITO TEMPO que não via a Lurdes, minha antiga colega de faculdade.
Daí a gargalhada de ambas quando esbarrámos no café, e lá abancámos diante de uma bica, a pôr a vida em dia.
Saltaram as fotografias da carteira, e o relato fatal das gracinhas infantis.
É então que ela me diz, apontando para a cara risonha do seu neto de três anos, “este até já anda no psicólogo”.
Eu fiquei sem saber o que dizer, tanto mais que a Lurdes falara com um indisfarçável orgulho na voz, assim como se dissesse, “este já anda no judo e é cinturão negro”.
Que eu soubesse não tinha havido revolução de maior na vida da criança, nem pais separados, nem um novo irmão, nem nenhum morto, mas a Lurdes, com um sorriso condescendente, lá explicou que o recurso ao psicólogo se devia ao facto de a criança ir entrar agora pela primeira vez para a escola infantil: “ eventualmente poderá haver um problema de rejeição da escola, e é preciso tratar.” (...)
Texto integral [aqui]
HÁ MUITO TEMPO que não via a Lurdes, minha antiga colega de faculdade.
Daí a gargalhada de ambas quando esbarrámos no café, e lá abancámos diante de uma bica, a pôr a vida em dia.
Saltaram as fotografias da carteira, e o relato fatal das gracinhas infantis.
É então que ela me diz, apontando para a cara risonha do seu neto de três anos, “este até já anda no psicólogo”.
Eu fiquei sem saber o que dizer, tanto mais que a Lurdes falara com um indisfarçável orgulho na voz, assim como se dissesse, “este já anda no judo e é cinturão negro”.
Que eu soubesse não tinha havido revolução de maior na vida da criança, nem pais separados, nem um novo irmão, nem nenhum morto, mas a Lurdes, com um sorriso condescendente, lá explicou que o recurso ao psicólogo se devia ao facto de a criança ir entrar agora pela primeira vez para a escola infantil: “ eventualmente poderá haver um problema de rejeição da escola, e é preciso tratar.” (...)
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Etiquetas: AV
7 Comments:
As pessoas perderam a capacidade de comunicar. E não só com crianças. Com os outros, aparentemente em tudo semelhantes a eles. Perdem a capacidade de olhar, tocar, de adivinhar emoções em pequenas variações das vozes. E não podem, nem sabem como ensinar aquilo que perderam.
Bem haja Alice, por continuar a escrever assim.
Estamos na era dos psicólogos. Nas escolas, em tempos recentes, foram proclamados e exigidos, como se viessem trazer-nos o paraíso. Vieram e foram engolidos pela realidade, que os reduziu à irrelevância. E só não são trucidados até fisicamente como tem acontecido com os professores porque são poucos e procuram passar despercebidos. É (também) por isso que eu não entendo que Alice Vieira tenha apoiado as bizarrias do governo para a área da educação, que só tornaram pior o que já estava mal e desanimaram os muitos professores que ansiavam e reclamavam, desde sempre, por meia dúzia de medidas simples, razoáveis e honestas...
Gostava que me dissesse, muito concretamente, que "bizarrias" do governo é que eu apoiei...
Critico o mau ensino, o facilitismo,a ignorância, o deixa-andar--acha que são "bizarrias"?
Um abraço
ALICE VIEIRA
discordo... os psi são necessários e se houvessem mais nas escolas como mediadores de conflitos e n como meros funcionários.... haveriam menos conflitos...os tempos mudaram e hoje mais do q nunca se utilizam as ferramentas da psicologia...em politica, em pub, etc.....façam um update.esta é a minha opinião.
Respigo do jornal "Público" de 19 de Janeiro passado, página 3: "A ideia que tenho, desde o princípio, é que a ministra tem razão em querer que os professores sejam avaliados, mas não sabe transmitir o que quer". Tudo o que nessa entrevista diz sobre os professores me parece infelizmente verdadeiro, ou quase, porque quando afirma que nas escolas privadas os meninos se portam muito bem e finaliza: "se está bem para essas escolas, porque é que não está para as outras?" isso escandaliza-me, e permito-me responder-lhe: não está bem para as outras escolas porque o ministério não deixa. É ao ministério de educação que cabe a responsabilidade da lástima em que o ensino caiu. E o que aconteceu nos últimos quatro anos só aumentou a desgraça. Quem não quer ver, pois que não veja. Mas isso dói, Alice Vieira. Dói muito.
À Conceição, peço perdão, mas tenho que dizer-lhe:espero que não seja psicóloga e, a sê-lo, espero que não trabalhe numa escola. Maior seria a minha desolação se soubesse que era professora. A escrever como escreve... E sabe mais Alice Vieira. Conheço casos de professores que escrevem do modo que atrás critico e que o modelo de avaliação em vigor classificou como excelentes. Posso garantir-lho, pela minha palavra e pela saúde, minha e dos meus filhos menores, também eles vítimas do que se passa no ensino.
Retribuo o abraço.
Acabaram os pais, começaram os psicólogos.
acho q se atingiu a lei de godwin
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Godwin
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