30.11.09

Ser lixo

Por Joaquim Letria

NO OUTRO DIA, ouvi alguém quase pedir desculpa por escrever numa revista do coração, e dizer que tem vergonha de lá trabalhar. Fico espantado com alguém jovem que, nos dias de hoje, diz que tem trabalho e, ao falar dele, não deixa pedra sobre pedra.

Nunca senti vergonha de nenhum sítio onde trabalhasse. Ou pensava que “ali não trabalho porque não colaboro com o inimigo”, ou porque “se ali trabalhasse, teria vergonha”, ou, então, trabalharia no limite porque era possível fazê-lo, sem constituir uma desonra para mim e para os meus. Ou fazia alguma coisa de novo. Agora desonrarmo-nos e ficarmos a gritar que fomos violados, tenham paciência, mas é muito pior. É muito feio!

Por vezes, na Imprensa, chega-se à calúnia e à injúria. É verdade. Tudo porque a sociedade exige a morbidez e adora a mentira. São estas duas que, duma maneira geral, originam as interpretações, dão azo às especulações, motivam os desmentidos, causam o dano, e infligem a humilhação.

O jornalismo lixo só existe porque uma boa parte da sociedade é educada para ser lixo. O telelixo produz-se porque a audiência o paga. As revistas do coração criam o seu lixo. É de lamentar haver este jornalismo. Certo. Mas é ainda mais de lamentar haver este interesse por este jornalismo, esta avidez por estes temas.

«24 horas» de 30 de Novembro de 2009

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1 Comments:

Blogger rc said...

Sou partidário da sua opinião.

O que me preocupa não é haver tanto lixo nas manhãs e tardes televisivas, nos jornais e nas revistas.

O que me preocupa é haver tanto quem goste e consuma esse lixo.

E não é a legislar que se altera isto, nem a criar quotas. É a educar, masísso, dá tanto mais trabalho...

30 de novembro de 2009 às 21:37  

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