13.1.10

As coisas que se dizem

Por Joaquim Letria

NO FUNERAL DUM QUERIDO AMIGO meu, o oficiante, jovem e apressado, falando de alguém que não conhecera, não esteve com meias medidas. Olhando a multidão de familiares e amigos que enchiam o templo, vá de proclamar que “estamos todos muito felizes por o nosso irmão António estar junto de Deus”. Naturalmente que os familiares do defunto não estavam nada contentes e, na verdade, nós, seus amigos, também não.

Há que tratar a morte com mais naturalidade, como aquele jesuíta que ao velar o corpo dum seu companheiro, e ao ser abordado por uma crente que lhe disse "Que bem que estará no Céu”, lhe respondeu: ”Bem, aquilo que se diz bem, era aqui, junto a nós, que ele estava”.

Nestas ocasiões é melhor falar bem sem dizer muito, do que falar mal, dizendo tudo. Quando eu era miúdo, ensinavam-nos a ler e a recitar. Em plena ditadura aprendia-se a ler, a recitar e a analisar os textos e os autores. Hoje, em democracia, não se ensina a ler, nem a escrever, nem a falar. Em Inglaterra, ensinaram-me que para falar há que entreter ou indignar. Que bom que seria nas nossas escolas deixarem-se de burrices curriculares e voltarmos a ter mais leitura.
«24 horas» de 13 de Janeiro de 2010

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3 Comments:

Blogger Pedro Barbosa Pinto said...

hummmm... o oficiante jovem e apressado parece que estudou em Inglaterra!

13 de janeiro de 2010 às 14:04  
Blogger José Batista said...

Os tempos não estão para ensinar.
Hoje, os professores estão quase impedidos de (tentar) fazer tal coisa.
Os alunos é que constroem o seu próprio conhecimento. E que bem que eles o têm vindo a construir!
Os professores envolvem-se em projectos (!?), relacionam-se com a comunidade escolar (!), frequentam acções de (de)formação, dinamizam actividades lúdico-pedagógicas (!?), etc.
Ah, e também avaliam: promovem a autoavaliação dos alunos e avaliam os colegas! Tudo muito objectivamente e imparcialmente. É por isso que o "ensino" (?!) está bem e vai ficar cada vez melhor.
A quem interessa este estado de coisas? É fácil indicar alguns beneficiários...
Só é estranho que tantas vozes importantes tenham dado cobertura a tais formas de governo e (des)orientação.
Imposturas impostas e apoiadas.
Só falta a devida asumpção de responsabilidade. Que talvez chegue quando as pessoas reclamarem o direito de a escola não lhes deseducar os filhos, impedindo-os de a frequentar.

13 de janeiro de 2010 às 20:04  
Blogger António Viriato said...

Mais um oportuno e excelente artigo, a provar que é possível ver claro fora das trelas do Poder.

O Ensino da Democracia abrange mais gente, sem dúvida, mas regrediu imenso, em quase todos os domínios e escalões, com a agravante de ter transformado as Escolas em recreios permanentes de rufias e madraços.

Felizmente que afirmar isto hoje, já não é sinónimo de pensamento reaccionário, nem se corre o risco de julgamento popular, como sucedeu com aqueles que primeiro disseram estas coisas, nos anos de brasa, com o consentimento explícito ou implícito de muitos de nós, então jovens inocentes, demasiado entusiasmados com os amanhãs que haveriam de cantar.

Pior que errar é persistir no erro e não aprender com a experiência.

Bom trabalho, pois, mais uma vez aqui o reconheço.

13 de janeiro de 2010 às 23:58  

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