12.1.10

Petróleo

Por João Paulo Guerra

Pena foi que a nenhum meio de comunicação tenha ocorrido pedir um comentário sobre o atentado terrorista cometido em território angolano pouco antes da abertura da Taça das Nações Africanas, a decorrer em Angola.
TAL TERIA PERMITIDO a alguns dos indivíduos e associações que se pronunciam regularmente sobre a suposta razão da luta da denominada FLEC, comentar um facto concreto, em vez de perorar em abstracto sobre supostas razões do bando. É sempre esclarecedor que em lugar de críticas abstractas, na modalidade de reais ou realíssimas patacoadas, as palavras tenham uma referência concreta. E a referência do que aconteceu pouco adiante da fronteira da República do Congo com o território angolano de Cabinda é muito simplesmente um inequívoco acto terrorista.

A denominada FLEC, da qual existem actualmente um sem número de facções e fracções, meras siglas e tendências, foi sempre um instrumento de interesses alheios aos dos angolanos. Os fundadores e primeiros dirigentes da FLEC, Tiago Nzita e Alexandre Taty, eram oriundos das Tropas Especiais de Cabinda, forças de segunda linha do exército colonial. Taty chegou a ser louvado pelo Governo colonial por "servir fielmente Portugal" na "actividade da contra-subversão". Após a independência de Angola, em cujos acordos se incluiu o território de Cabinda, uma multiplicação de FLEC's passou a defender, a partir de capitais como Paris, Lisboa ou Kinshasa interesses franceses com o petróleo de Cabinda no horizonte. As "acções militares" das FLEC's limitaram-se ao rapto de técnicos portugueses e ao massacre de populações locais.

O acto de terrorismo na abertura da Taça das Nações Africanas é mais um episódio da tragédia dos angolanos de Cabinda: a tragédia de terem petróleo.
«DE» de 12 Jan 10

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1 Comments:

Blogger José Meireles Graça said...

"... foi sempre um instrumento de interesses alheios aos dos angolanos,"
Pois foi. E compreende-se: os Cabindas não são Angolanos e não têm fronteiras comuns há mais de cem anos..
"Após a independência de Angola, em cujos acordos se incluiu o território de Cabinda,..."
Sem que os Cabindas tivessem tido uma palavra a dizer.
"...interesses franceses com o petróleo de Cabinda no horizonte."
Bom, a ajuda da URSS e da China aos antigos movimentos de libertação não terá sido inteiramente desinteressada.
"As "acções militares" das FLEC's limitaram-se ao rapto de técnicos portugueses e ao massacre de populações locais."
As acções militares dos movimentos de libertação não se dedicaram, no início das hostilidades, ao massacre de colonos?
Dito isto, acho que a qualificação da FLEC como um movimento terrorista é correcta. Também o era a qualificação como terrorista dos movimentos de libertação das colónias. E este paralelismo, imperfeito mas não descartável, não está presente no post.

13 de janeiro de 2010 às 23:10  

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