22.2.10

As enxurradas do Funchal

Por Joaquim Letria

FOI PRECISO morrerem dezenas de portugueses e haver feridos e desaparecidos na tragédia da Madeira para Portugal readquirir o aspecto duma nação como as outras, governada por gente aparentemente responsável.
Possivelmente, foi o luto e o respeito devido aos familiares dos mortos da Madeira que os conteve. Mas ver o primeiro-ministro a falar sem ser por causa dumas mentirolas e o presidente do governo regional com ar compungido, os dois juntos a ouvirem o ministro Rui Pereira dar conta do que já mandara fazer para ajudar a assistir e a reconstruir o Funchal, dá gosto. Surpreende também o ar sério de Jardim, preocupado com as repercussões que tanto podem prejudicar a economia do arquipélago.
Politicamente, isto ajuda uma nação descoroçoada pelo triste espectáculo da marabunta. No sábado, ainda houve dois corvos da AR que grasnaram. Mas chegou e sobrou, para eles, o vice-presidente da Câmara do Funchal.
A tragédia da Madeira acaba por ser, politicamente, uma bênção para o primeiro-ministro que se arrastava pela poeira dos caminhos. Oxalá não venham a descobrir, numas escutas telefónicas, o São Pedro a combinar, com uns “boys” de serviço, a estratégia das enxurradas do Funchal que salvaram Sócrates da desgraça!
«24 horas» - 22 Fev 10

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