A voz e as palavras
Por Carlos Pinto Coelho
COMO GLOSAR O TEMA “A Voz e as Palavras” neste tempo em que as palavras estão a perder voz? Que palavras escolher para falar deste silêncio que está a cair sobre um mundo antigo onde as palavras diziam, significavam, sorriam, excitavam, jogavam com a vida e a morte?
Esmagadas neste tempo de ruído, as palavras estão a sumir-se, a mirrar, a esvair-se como as cores dos cartazes velhos comidos pelo sol. Derrotadas pelo Grande Exército da Imagem, as palavras estão a ficar magras e secas como aqueles cães famintos que se vêem nas cenas dos filmes de guerra, farejando restos entre escombros de prédios destruídos.
Como é mortiça e rouca a voz que têm agora as palavras nas rádios toca-discos das nossas manhãs e tardes. E no vazio dos programas das nossas televisões à noite. E nos diálogos estéreis das mensagens de telemóvel. E na chinfrineira da publicidade demencial que nos agride por todo o lado. E na secura de autómatos falantes com que nos cruzamos nos centros comerciais. Que pálidos murmúrios… que pobreza de vozes… que rotos andam os sapatos da nossa convivência civil…
Tempo houve em que as palavras tinham a voz clara e luminosa das verdades inteiras e das delícias da inteligência. Era a voz da música dos poemas, do canto forte da sabedoria, dos madrigais da elegância e das sinfonias dos convívios interessantes. As palavras traziam a voz de festins que saciavam a alma. Agora…
… Agora a voz moribunda das palavras anda por aí a repetir “ké k kers… tásse bem meu… boralá curtir.”
COMO GLOSAR O TEMA “A Voz e as Palavras” neste tempo em que as palavras estão a perder voz? Que palavras escolher para falar deste silêncio que está a cair sobre um mundo antigo onde as palavras diziam, significavam, sorriam, excitavam, jogavam com a vida e a morte?
Esmagadas neste tempo de ruído, as palavras estão a sumir-se, a mirrar, a esvair-se como as cores dos cartazes velhos comidos pelo sol. Derrotadas pelo Grande Exército da Imagem, as palavras estão a ficar magras e secas como aqueles cães famintos que se vêem nas cenas dos filmes de guerra, farejando restos entre escombros de prédios destruídos.
Como é mortiça e rouca a voz que têm agora as palavras nas rádios toca-discos das nossas manhãs e tardes. E no vazio dos programas das nossas televisões à noite. E nos diálogos estéreis das mensagens de telemóvel. E na chinfrineira da publicidade demencial que nos agride por todo o lado. E na secura de autómatos falantes com que nos cruzamos nos centros comerciais. Que pálidos murmúrios… que pobreza de vozes… que rotos andam os sapatos da nossa convivência civil…
Tempo houve em que as palavras tinham a voz clara e luminosa das verdades inteiras e das delícias da inteligência. Era a voz da música dos poemas, do canto forte da sabedoria, dos madrigais da elegância e das sinfonias dos convívios interessantes. As palavras traziam a voz de festins que saciavam a alma. Agora…
… Agora a voz moribunda das palavras anda por aí a repetir “ké k kers… tásse bem meu… boralá curtir.”
Etiquetas: CPC
6 Comments:
À dias, encontrando-me a prguiçar numa esplanada do paredão da praia do Estoril, notei, às tantas que os telemóveis, não parávam de chamar pelos donos e que eles (os donos) atendiam invariávelmente com a frase-feita "TOU!? (um berro inicial) d'ondéquetás? Han? HAN? Ah! Quéquetázafazer? Yah... ok, tá... poizagentevêsse...xau.
Isto, rpetido em diferentes aparelhos, com diferentes pessoas.
A sensação?!
De estar assistir a um filme real do mestre do suspense Mr. Alfred Hitchcock.
É como o Carlos diz... escreve... diz, escrevendo: o maralhal deixou de escutar o que diz e de reflectir sobre o sentido e o significado de cada palavra. Ainda sou do tempo em que os pais e os educadores avisavam: pensa antes de dizer, presta atenção àquilo que dizes, cada palavra transporta um significado e um sentido. Cada palavra pode ferir, ou curar, pode arreliar, ou confortar, pode transmitir conhecimento, ou pode retira-lo. A palavra, escrita, ou dita, foi, é e é preciso que não deixe de ser,um veículo priveligiado de entendimento e comunicação entre as pessoas e, por conseguinte, de evolução.
"Era a voz da música dos poemas, do canto forte da sabedoria, dos madrigais da elegância e das sinfonias dos convívios interessantes. As palavras traziam a voz de festins que saciavam a alma."
Porque me faltam as palavras, curvo-me em vénia ao que de mais belo tenho lido.
Caro amigo romântico
Os sons são só uma forma de comunicação. Em todas as Eras o que realmente importou foi passar uma mensagem e recebê-la/descodificá-la. A musicalidade dos sons pela sua repetição e ritmo, serviram nos primeiros tempos para transmitir o conhecimento entre gerações por ser mais fácil relembrar a história quando marcada por ritmo e sons rimáticos.
Depois nasceram os poetas: os que fazem mais bonito com as palavras: louvados sejam!
Mas na base sempre esteve a comunicação e a esmagadora maioria só quer comunicar e não fazer poesia.
O próprio conceito de beleza dos sons (palavras) e construção das frases vai variando ao longo do tempo. Camões teria um ataque se lhe dissessem que o que escreveu Drummond de Andrade é poesia. E eu gosto deste, vê?
No nosso tempo actual apenas interessa comunicar; os sons bonitos são para deleite, não fazem falta na correria do trânsito, na recolha dos miúdos na creche, na cozinha a descascar batatas à pressa para a sopa.
Mas quem procura beleza, encontra-a com facilidade à sua volta e com qualidade. Continua a haver quem “puxe” pela poesia:
http://poesiaemredevida.blogs.sapo.pt/11643.html
Diz Ana C.:
"No nosso tempo actual apenas interessa comunicar; os sons bonitos são para deleite, não fazem falta."
Nesse mesmo beco estreitinho também cabe dizer:
"No nosso tempo actual apenas interessa estar alimentado; a boa cozinha é para deleite, não faz falta."
Ou:
"No nosso tempo actual apenas interessa vestir o corpo; a roupa bonita é para deleite, não faz falta."
Se eu podia sobreviver num mundo actual assim concebido? Podia... mas não era a mesma coisa. Esse tal "mundo actual" deixo-o para quem se conforme com ele, mesmo a descascar batatas.
Não existe ponta de "romantismo" no que escrevi. Romantismo é coisa farfalhuda, delicodoce e lamurienta, que não cabe em nenhuma das minhas palavras. O que ali está é simplesmente uma descarada simpatia pela elegância no convívio e uma recusa intolerante do avacalhamento das formas de expressão.
"Os sons são só uma forma de comunicação"
Cara Ana, permita-me discordar.
Há, de facto, uma diferença entre sons e comunicação. Tal como a há entre o som e a música. E se na segunda opto pela música, na primeira quero mil vezes a palavra. A comunicação/palavra, como a música, sem beleza e harmonia é pura cacofonia.
Não sei se, quando a Ana fez uso da palavra "romântico" estaria a pensar somente no seu significado estrito. Penso que o "romântico" que a Ana quis "chamar" ao Carlos, se relaciona mais com paladino, defensor de um ideal que pode ser também, um ideal romanesco.
Digamos... um Dom Quixote que (nos tempos actuais) se arrisca a combater gigantescos moínhos de vento, em defesa de sua dama Dulcineia... a palavra.
Em minha opinião... mesmo que assim seja, vale a pena a peleja.
Declaro-me desde já um Sancho ao seu dispôr!
;))))
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