Alhos e analfabetos - Passatempo duplo
Já que tanto se fala em cortar despesas, que tal pôr a mexer os idiotas que deixam fazer isto à calçada de Lisboa - nem sequer respeitando o símbolo da cidade?! [*]
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COMO JÁ se percebeu, o que aqui fica é mais um passatempo-de-balança; mas com uma particularidade: quando foi fotografado, o livro sobre analfabetismo funcional estava apoiado nas duas cabeças de alho que à direita se vêem. Além do livro (a atribuir a quem mais se aproxime da resposta certa à pergunta "quanto indica a balança na foto da esquerda?"), haverá um prémio adicional (surpresa) para quem souber dizer onde foi tirada a foto de cima. Cada leitor poderá dar uma única resposta a cada uma das questões, terminando o passatempo às 20h de terça-feira (25 Mai 10).
[*] Uma vez acabado o passatempo, esta foto regressará à interminável colecção de aberrações que se pode ver [aqui].
[*] Uma vez acabado o passatempo, esta foto regressará à interminável colecção de aberrações que se pode ver [aqui].
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Actualização (20h42m): a solução já está disponível [aqui].
39 Comments:
Eu diria que o livro e as duas cabeças de alho pesam... 230g.
Cada leitor poderá responder a ambas as perguntas, não tendo de o fazer no mesmo comentário.
E nada impede que o mesmo leitor venha a ganhar ambos os prémios.
Local da calçada: Avenida Almirante Reis
Peso da balança: 600 gramas
Eu bem devia ter prestado mais atenção à calçada na última vez que estive em Lisboa! Mas não, desta vez armei-me em turista mas só de prédios e monumentos e negligenciei a parte onde os meus delicados pés palmilhavam! Não sou lisboeta – como já deu para perceber – mas os anos que aí vivi foram muito especiais e, consequentemente, é como se um pedacinho dela me pertencesse também – os lisboetas que não me levem a mal! E fico irritadíssima também quando vejo essa calçada ser tratada com tanta falta de brio e profissionalismo.
Bem, vamos lá ao peso: o meu palpite é 558 gramas (alhos e tudo) !
Pois é, Carlos, fala-se. Mas parece que é só isso que fazem: falam apenas; e essas falas não são conducentes a acções inteligentes. Até a este nível se nota perfeitamente a falta de “produção”. As pessoas – os membros do mercado laboral – fazem que trabalham e os quadros superiores fecham os olhos porque eles próprios vivem no mesmo “fingimento”. E a população vai-se habituando ao status quo e acaba-se por nem se reparar em determinado tipo de coisas porque já há muito que fazem parte do “normal”. Não é que nos outros países não aconteçam coisas do arco da velha também. Só que em certas regiões parece que a população reage de forma mais veemente... potanto, não se caracterizam por essa docilidade lusitana. Estou a falar de países onde a engrenagem política funciona.
Tem razão quando fala de "hábito":
As pessoas ficam a olhar (para mim e para o chão) quando me vêem a tirar estas fotos.
Ao princípio, nem sequer percebem porque o faço.
Depois lá reparam (ou eu digo-lhes), e a maior parte responde qualquer coisa como «Tem razão... Nunca tinha notado...»
Livro + alhos 498g
Uma 'dica' para a localização:
Em baixo, no texto do 'post', indica-se o 'link' para a colecção de aberrações de Lisboa e Lagos.
A foto da calçada chegou a estar lá, mas foi retirada temporariamente para que este passatempo fosse possível.
Livro + alhos = 910g
A foto foi tirada na Av. da República, em Lisboa.
"Mg",
Certo! Foi no passeio do lado nascente, junto à esquina com a Av. Duque d'Ávila.
A partir de agora prossegue apenas o passatempo do peso.
Obrigado.
Quanto ao peso, aposto em 432 gramas.
Pronto, está-se mesmo a ver que o Mg andou a percorrer as ruas de Lisboa , provavelmente aos encontrões com as pessoas porque só olhava para a calçada e foi a correr para casa para dar a resposta certa!!!! : )
E não é que, provavelmente, terei ido mesmo??!! :)
Só não houve encontrões, que a malta está mais preocupada com o jogo da bola...
Não sei o que o "Mg" fez para dar a resposta certa, mas a 'dica' atrás fornecida ajudava bastante. É que as ruas onde as fotos foram tiradas eram poucas, e a Av. Almirante Reis já tinha sido aventada (e não premiada).
Além disso, e como também se diz, a foto já esteve afixada, pelo que os leitores mais atentos já a teriam visto.
Às vezes, é quase como a questão da balança: atira-se à sorte e espera-se acertar!
Livro + alhos = 835g
329 gr
Não quero saber dos alhos nem dos bogalhos. Perdoem-me por isso. Quero apenas recordar que este tipo de atitudes de recolocar as pesadíssimas tampas no passeio sem preocupação com os desenhos da calçada tem explicações mais densas do que a simples "estupidez". Recordemos que vivemos enebriados com o paradigma da produtividade, da avaliação e da quantificação obsessiva, sendo os trabalhadores controlados como meras peças de um maquinismo mais ou menos complexo. Se uma peça não está a cumprir a função esperada (produzir X no tempo Y) considera-se deficiente e tem de ser imediatamente substituída.
Claro que é sempre mais cómodo e intelectualmente mais fácil fazer recair a culpa aos "estúpidos" dos trabalhadores, mas, como dizia um conhecido dramaturgo, todos falam da bravura do rio mas ninguém fala das margens que o comprimem.
Vejamos a sociedade que nos rodeia, a forma como se tratam os trabalhadores, aquilo que se entende por mercado de trabalho, a ascensão meteórica dessa nova classe de sacerdotes da incultura chamados "gestores", a instiuição de uma nova religião positivista centrada no lucro e na apostasia do qualitativo, a redução da humanidade à expressão quantitativa em todas as vertentes e logo teremos a explicação destes fenómenos. Eles são um sintoma da sociedade contemporânea.
Simples, não é?
E não me parece nada "estúpido".
Um texto muito bem elaborado e que demonstra grande facilidade de expressão escrita. Todavia, conclui-se o mesmo: há falta de brio e de profissionalismo a todos os níveis.
370 gramas.
Bom domingo!
:)
Caro Carlos,
Antes de mais, peço-lhe que veja as dezenas de fotos que se podem ver no endereço (link) que consta no rodapé do texto do passatempo (nomeadamente as tampas redondas).
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O que está em causa é muito simples:
1º - Se, como é evidente, dá tanto trabalho fazer bem como fazer mal, porque é que fazem mal?
2º - O que está ali a ser abandalhado são equipamentos públicos (passeios e calçadas), que devem ser respeitados.
Além do mais, há um manifesto desprezo pelo trabalho dos artistas calceteiros, que dedicaram horas infinitas a fazer aqueles trabalhos, e pelo dinheiro dos contribuintes.
3.º - Os fiscais das autarquias são pagos pelos munícipes para evitarem coisas dessas.
4.º - O facto de ser mais fácil chamar estúpidos aos que procedem assim não quer dizer que isso seja falso - nem tudo o que é fácil é errado.
Aqueles indivíduos (e respectivos chefes e fiscais) são mesmo desleixados e analfabetos funcionais, pelo que deviam ser retirados dessas funções.
Aliás, qualquer chimpanzé amestrado faria o trabalho melhor.
Já agora: a citação de B. Brecht é descabida, pois, neste caso, a culpa não é da sociedade... Quando muito, é das empresas que contratam essas pessoas - e das autarquias que mantêm, nos seus quadros, fiscais que não são muito melhores.
Sugestão:
No seguimento do comentário do leitor Carlos, sugiro que se abra um 'post' só para discutir o problema do analfabetismo funcional.
É que o assunto é interessante (e importante), e seria pena se as opiniões dos leitores ficassem perdidas aqui, no meio de um passatempo.
O que acham?
Eu apoio!
Dado que o motivo (e o texto principal) desse 'post' seria o comentário do leitor Carlos, vamos esperar para saber se ele concorda.
(Se a discussão fosse animada, até poderia haver um prémio especial, que já aqui tenho)
Esperemos que sim, que ele concorde.
I
Meus muito caros ciber-companheiros, permitam-me dizer apenas um par de coisas.
Em primeiro lugar, ninguém precisará de autorização para discutir a minha opinião, porque eu não sou o Papa, logo não sou contemplado pelo famoso "dogma da infalibilidade". Contudo, porque a minha vida não me permite devaneios, lamento informar-vos que não poderei participar da vossa certamente frutuosa conversa. Falta-me o tempo, porque também eu sou agora mais uma peça da grande máquina que Chaplin já ilustrara em Tempos Modernos.
Em segundo lugar, quero afirmar que concordo quase totalmente com as observações do Carlos Medina, pois não são contraditórias com o que expus.
Fico tanto ou mais irritado que o CMR quando vejo esses atentados praticados nas cidades. Mas não me irrito apenas por preocupação estética. Irrito-me porque criámos uma sociedade absolutamente amoral, desrespeitadora da História, desumana e glorificadora desse "anafabetismo funcional, de que esses actos fotografados são um sintoma.
Talvez o CMR e os meus caros cibercompanheiros não saibam aquilo em que se tornou a administração pública nos últimos anos, sendo agora a perfeita negação do serviço público. Não vivo em Lisboa, mas acredito que por lá a situação ainda é mais grave. Falarei do que conheço e sobre isso posso contar-vos que há muito que as autarquias decidiram despachar tudo o que é pessoal operário criando assim vagas para serem ocupadas por boys que assentam praça como generais-assessores (a tal Lei de saírem 2 funcionários para entrar 1 foi um "fartar-vilanagem" para despachar os velhos e honrados operários e contratar os drs. jotinhas, com salários correspondentes a 5 operários). Os poucos operários que ficaram estão agora sujeitos a um modelo de avaliação cego e brutal, que determina como objectivo maximizar a produção no mais curto espaço de tempo. O incumprimento implica processo disciplinar visando "despedimento por inadaptação". Assim, se estivermos a falar de reparar uma avaria nuns esgotos de uma rua, o trabalhador terá de o fazer no mais curto espaço de tempo e, quando tiver de recolocar as tampas (que são mesmo muito, muito pesadas - sei-o por experiência própria) ele vai tapar o buraco da forma mais célere que conseguir. No seu processo de avaliação (sempre exclusivamente de base quantitativa) ele não é avaliado pela forma como coloca, mas pela velocidade com que termina o trabalho e resolve o problema determinado: consertar o esgoto. As preocupações estéticas não são quantificáveis e o trabalhador tem de competir com os das restantes equipas porque é provável que, no final do ano, atentos os resultados das avaliações, quem estiver abaixo da média acabe no olho da rua por "inadequação" (sic na Lei). Um operário que queira "perder" mais uns minutos a compor o puzzle da calçada pode colocar em causa não só o seu posto de trabalho como o dos colegas da sua equipa e - o mais importante - impedir que os chefes recebam as gratificações inerentes ao melhor desempenho.
(continua...)
II (continuação)
Ao mesmo tempo, como se pode calcular, o brio e o esmero dos trabalhadores que exercem a sua função sob esta pressão permanente, não será o melhor. Já entram no trabalho a pensar na hora da saída. Para cúmulo, ganham cerca de 500 euros por mês e ainda têm de ouvir diariamente as acusações de todos (desde o primeiro-ministro até ao vagabundo) que, por serem funcionários públicos, são os grandes responsáveis pela crise. É duro, não acham?
Nas grandes autarquias as coisas não funcionam assim porque já nem sequer têm um operário no quadro. Os seus assessores drs. jotinhas contratam empresas (de amigos e correlegionários) para fazerem esses trabalhos na via pública, onde os operários indiferenciados são recrutados por empresas de trabalho temporário, com salários inferiores ao mínimo nacional porque usam o estratagema de lhes chamarem "trabalho por turnos". Com este truque, contratam pessoal para trabalhar seis horas por dia e pagam entre 250 e 300 euros por mês. A avaliação do pessoal é ainda pior do que na função pública. Eles estão ali para produzir e não para rodriguinhos! Isso é para os velhos do Restelo como eu e o CMR. Gostava de ver "o brio e o profissionalismo" de cada um de nós se estivesse em semelhante situação.. Além do mais, importa recordar que essas categorias têm carácter relativo. Aquilo que, nos tempos que correm, se entende (de acordo com os evangelhos do marketing e da gestão) como brio e profissionalismo tem pouco a ver com a ideia que outrora se ensinava às criancinhas, eu incluido. De forma abreviada, esclareço que essas categorias significam agora "submissão canina ao superior" e "vender até a mãe, se isso aumentar os proventos do patrão". A submissão canina, evidentemente, só cessa no fastígio da pirâmide.
Quanto aos fiscais das autarquias, muitas histórias (muitas mesmo) se poderiam contar, mas recordo que esta categoria profissional foi extinta recentemente com a muito aplaudida revisão de carreiras da função pública - essa "classe de párias". Existe, nalgumas câmaras, a polícia municipal, que herdou as funções da fiscalização, mas a tendência generalizada é a contratação de empresas para fiscalizar determinadas obras, durante o tempo estritamente necessário.
Se realmente quisermos (e eu concordo), como diz o CMR, mandar embora os analfabetos funcionais que permitem que estas coisas aconteçam decerto que teremos que começar por cima, por quem modelou este modelo de administração, este modelo de desenvolvimento e esta cultura de desumanidade. Podemos começar por S. Bento e anexos, passar pelo Terreiro do Paço e por aí adiante... Ou terá de ser sempre o último e o mais fraco elo da corrente a sofrer as consequências?
As placas desordenadas são uma mensagem. O trabalhador que as coloca dessa forma é (sem o saber) apenas um mensageiro. Saberemos nós entender essa mensagem, descobrir o seu remetente, ou será mais cómodo e fácil regozijarmo-nos com o enforcamento do mensageiro?
Até quando estaremos a discutir o éter, sem termos coragem de aprofundar o problema e descobrir a sua infraestrutura tangível? Porque fazemos isto?
Talvez seja doloroso percebermos que, no remetente da mensagem, também está lá inscrito o nosso nome (mesmo que seja em último e em letras pequeninas) porque permitimos - todos - que a Pátria chegasse a este ponto.
Temos o direito de exigir que as pessoas respeitem as pedras, mas temos o dever de exigir primeiro o respeito pelas pessoas!
PS - Impetro ao CMR (de que sou um grande fã) para não vir dar ideias de ir buscar chimpazés amestrados porque a esta hora já andarão alguns gestores públicos a fazer as contas a essa solução, decerto mais barata (logo melhor!) para os cofres do Estado, sem perigo de greves nem contestações, com subserviência garantida a troco de duas bananas, ou talvez só uma.
Se é assim mesmo como o Carlos descreve – e não tenho razão para duvidar – vamos “atacar” os “de cima” e deixemos os pobres calceteiros em paz.
410 gramas
Acabei de afixar um 'post' só dedicado à discussão deste tema.
Lá, sugiro aos leitores que venham aqui ver os comentários já afixados, mas talvez fosse interessante que o debate prosseguisse nesse 'post', criado propositadamente.
Esperando que os alhos não sejam chochos, vou para 355 gramas.
Boa tarde,
424 gr.
Às 20h01m as resposta aparecerá afixada no endereço indicado em rodapé do 'post'.
Isto parecia tão bom e veio a Sofia estragar isto e ganhar. Parabéns :-)
Parabéns Sofia :)
Muito obrigada :)
Portugal só vai produzir qualidade quando todo o tipo de profissionais forem formados. Para se fazerem estradas em condições, não se necessita só de engenheiros formados mas sim também de predreios, contoneiros, alcatroeiros, etc e tal, mas todos devidamente formados profissionalmente. A partir do momento em que só os caciques são formados e os outros fazem de andarilho, o Sr. engenheiro pode ser muito bom, mas o trabalho feito pelo andarilho nunca irá ser de qualidade - um único cacique, não pode controlar o que muitos andarilhos andam a fazer. Por isso penso que é injusto andarmos a bater nos maus profissionais portugueses. Eles são maus porque não foram formados.
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