REPARE-SE nas semelhanças - dos fatos, das gravatas, da posição das mãos, das pernas... Ah, por falar nisso: eu não acompanhei o programa todo, mas o único que nunca vi "de perna traçada" (o que, pelo menos dantes, era considerado incorrecto em situações solenes) foi o Presidente da C.M. de Faro, Macário Correia.
15 Comments:
Resta chamar a atenção para a semelhança de expressões faciais, assim como quem está a pensar " Que grande seca.... O que é que eu não faço por um bom tacho!"...
Num exame de Análise do 2.º ano do IST, em 1966, assisti a um professor que interrompeu a prova oral que estava a fazer para chamar a atenção de um senhor que, na assistência, estava de perna traçada.
Mais recentemente, António Guterres (salvo erro na China) foi notícia por ser o único político que, numa tribuna de honra, estava nessa posição.
Na imagem não podemos ver Macário Correia, nem António Barreto. Será que ainda andava à procura do discurso?
A fila era maior. Jaime Gama e Noronha do Nascimento também não aparecem aqui.
Nesta imagem (que obtive fotografando o écran), apanhei estes 3.
Curioso, a mim parece-me que estão todos muito bem na fotografia, que aprecio, sobretudo na expressão facial, por me parecer reveladora de que cada um poderá estar a pensar...
Também não vejo qualquer mal em estarem sentados de perna traçada. Há convenções que por não apresentarem qualquer benefício, nem sequer estético, é melhor ignorar.
Porém, se fossem senhoras e usassem saias curtas, enfim, justificava-se algum cuidado, pelo excesso de atenção que poderiam concitar...
Lembro-me de entrevistas de Mário Soares na tv em que ele puxava os suspensórios e se rebolava na cadeira, factos a que achava uma certa graça: parecia-me mais natural que os outros, e por isso mais humano.
E lembro-me também, se não estiver errado, de uma frase de Miguel Torga em que ele dizia gostar de falar com alentejanos porque os alentejanos eram os únicos portugueses que conhecia que tinham a dignidade de falar com outros homens, alentejanos ou não, sem tirar o chapéu...
E lembro-me ainda de uma situação de exame num anfiteatro do edifício de mineralogia em Coimbra, em que um professor, sentado na cadeira, chamou um assistente para lhe indicar que uma menina se debruçava atentamente para as próprias coxas, bastante a descoberto, lá numa das mesas mais ao alto. E quando o subordinado se ergueu e se deslocava pressurosamente na direcção da prevaricadora, o mestre chamou-o, disse-lhe qualquer coisa baixinho, o que logo o demoveu, permitindo ao ilustre catedrático, continuar a disfrutar do que tanto parecia agradar-lhe.
Concluindo: ele há convenções e procedimentos que convém que não sejam estritamente executados, porque os piores males do mundo têm normalmente outras origens.
Claro... As convenções são o que são, e vão variando com o tempo.
Não achamos bem que alguém esteja em casa com o chapéu na cabeça, ou que cumprimente as pessoas sem tirar as luvas.
São convenções que vêm dos tempos em que se tirava o elmo e o guante (para mostrar que se estava em paz), mas que ficaram e as pessoas continuam a seguir, passados séculos, mesmo sem saberem porquê.
A convenção da perna traçada também: a pessoa adopta essa posição porque a descontrai mais, e essa descontracção é considerada menos apropriada em momentos mais solenes.
Esse género de coisas vêm num velho livro de Erasmo «A Civilidade Pueril» (*), em que as criancinhas aprendem a comportar-se: à mesa, em reuniões, em família, etc.
É curioso que, tendo sido escrito há 5 séculos, muitas dessas convenções ainda hoje são respeitadas!
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(*) Esse livro já aqui foi oferecido como prémio de um passatempo, mas já não há mais exemplares.
Já agora, uma observação acabada de chegar:
António Barreto também procedeu como Macário Correia...
Eu,do Erasmo de Roterdão li, reli, e apreciei o "elogio da loucura".
O das convenções talvez venha a ler. Ou não.
É que há convenções cuja racionalidade não compreendo e não prezo. Embora não dispense a delicadeza e o respeito que a todos é devido, a começar por cada um de nós, em qualquer situação, sempre.
O problema, neste caso, é que há 2 tipos de convenções:
Aquelas (como as do chapéu dentro de casa e a luva que se tira para cumprimentar alguém) que têm uma explicação remota e outras que não têm.
P. Ex.: porque é que, nas igrejas (pelo menos em algumas) não se pode entrar em fato-de-banho, mesmo quando se situam em zonas balneares?
Porque é que até nos rimos só de pensar que alguém poderia aparecer, de chinelos, numa sessão solene?
De facto, parece não haver nada que o impeça.
O que sucede, é que, nesses casos, habituámo-nos a associar certos lugares a certos comportamentos.
Claro que isso vai variar com o tempo. Aqui vai um exemplo flagrante:
Quando eu era miúdo, se um homem acompanhava uma senhora, ele ia, no passeio, do lado da rua. Era um hábito que vinha do tempo das carroças e carruagens, em que o homem, sendo mais forte do que a mulher, a protegia. Hoje em dia, ninguém liga a isso.
Outro exemplo: numa escada, a senhora deve ir à frente do homem (se for a descer) e atrás (se for a subir). Essa convenção, também em desuso, estava relacionada com o facto de ver as pernas femininas, numa época em que até o tornozelo era excitante!
Finalmente, uma curiosidade:
Certa vez, na Alemanha, acompanhei uma senhora a um restaurante. Abri-lhe a porta e, mesmo sem pensar, quis deixá-la passar primeiro.
Ela explicou-me que, se eu o fizera por gentileza, a regra (pelo menos lá) era a oposta:
O cavalheiro entrava primeiro, para ver se havia perigo!
Podemos, então, matutar porque é que algumas convenções se mantêm e outras vão caindo em desuso. Por mim, não sei a resposta.
No entanto, e dado que elas existem com o fim de facilitar o relacionamento em sociedade, a regra de «em Roma sê romano» parece ser um bom princípio.
Mais um par de exemplos (ambos dados no livro de Erasmo):
1-«Não meter a mão (para molhar o pão no molho) na travessa (da comida) que está a ser usada por todos» - Numa época de pouca higiene, a ideia é que havia quem tivesse as mãos sujas e podia conspurcar a comida dos outros. Mesmo actualmente, esse princípio tem lógica e é respeitado - é algo do senso-comum.
2-«Só se servir / só se sentar / só começar a comer (etc.) depois dos mais velhos o fazerem» - poderá cair em desuso, mas tem alguma lógica: é (ou era...) uma forma simples de manifestar respeito por quem, à partida, o merecia.
Podemos perguntar se a sociedade fica melhor ou pior à medida que essas convenções vão desaparecendo.
Nalguns casos sim, noutros não, noutros não se sabe...
Em matéria de convenções sou pelas necessárias, convenientes e facilitadoras. Também tenho respeito pelas tradições.
Até porque, Carlos Medina Ribeiro, tenho tido colegas (jovens) professores que têm aparecido nas aulas de chinelos de enfiar entre os dedos, daqueles de plástico (escapa-me agora o nome...) e, vá-se lá saber porquê..., não têm acabado bem o ano lectivo nalgumas turmas... Também convivi com o caso de uma professora que, usando uns decotes para que nós os colegas (homens) íamos olhando mais ou menos de soslaio, adivinhando que todos os outros estavam a mirar o mesmo que nós..., acabou queixosa porque os alunos não se continham... Coisa que nós, os homens, fomos achando inadmissível, muito solidários. E um mais franco até lhe disse que se fossem já verdadeiros homens, como os professores, ainda vá, mas na condição de alunos, realmente...
E a colega lá continuou, tão decotada como habitualmente.
Também não achei adequada a defesa que tantas inteligências fizeram do caso da "professora" de Mirandela (não era?) que se despiu para uma revista. Por dois motivos: 1º uma professora deve comportar-se como professora, em toda a sua vida pública e 2º aquela senhora foi contratada por uma câmara para acompanhar crianças, mas não é professora.
Pelo menos não a considero minha colega. E também não a queria para professora de filhos meus.
Por aqui se vê que não sou alheio e muito menos contra as convenções.
E pronto, termino, que daqui a pouco vou ter uma reunião de "notas" dos meus alunos de 12º ano.
No comentário anterior, quando afirmo que uma professora deve, na sua vida pública, comportar-se como professora, quero apenas dizer que deve comportar-se sem pôr em causa a sua condição de professora.
Caro Carlos
Muito pior do que a perna traçada, como lá disse no meu sítio, foi a falta de compostura do primeiro-ministro Sócrates perante as honras militares: mãos caídas (em vez do sentido aprumado do Presidente) e o cúmulo de mãos atrás das costas quando os comandantes do desfile vieram apresentar ao Presidente, ao primeiro-ministro e ministro da Defesa as suas armas e prestar continência.
E o Ministro da Defesa fez uma vénia perante a continência de um comandante do desfile... Em vez de lhe dizer «está licenciado» - talvez por causa da licenciatura rápida do PM (e por ser fim-de-semana)...
Esta gente tem assessores e ajudantes-de-campo militares que lhe xplicam os cuidados no cerimonial. Não é por desconhecimento - mesmo se não foram à tropa (não sei se Amado e Santos Silva foram...).
É uma idiossincrasia que, passados 35 anos da revolução de Abril, os socialistas, quando estão na posição de estadistas, ainda não consigam enfrentar um desfile militar com compostura. Ó senhores, fazer sentido perante uma força militar do seu País, que lhe prestam, de forma humilde e respeitosa, honras militares e lhe apresentam as armas, não é fascismo!...
É quem quem está do outro lado, os militares e os que passaram pelas fileiras, tomam essa negligência por desrespeito e desprezo.
Numa palavra e em pleno estômago: p a l h a ç o s !!!
Caríssimo A.B. Caldeira,
Não vi a cerimónia toda, pois a idade vai-me tirando a pachorra para coisas destas.
Ouvi apenas os discurso do A. Barreto e do Cavaco, e apreciei o ar displicente de alguma daquela gente, ali sentada, e não gostei.
Abraço
CMR
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