10.8.10

Do arquivo Humor Antigo - Ano de 1920
NÃO faltam, nas obras de Camilo, Eça, Ramalho, etc. referências ao mau trabalho dos deputados da nação nos tempos da Monarquia. Ora, esta anedota, sendo de 1920, mostra que a sua má imagem perdurou muito para lá dessa época.
Mas talvez os visados só se possam queixar de si próprios, pois o que dizer [desta] notícia do «DN» de hoje?

7 Comments:

Blogger Catarina said...

E quem tem a culpa? Quem permite que as faltas continuem a ser dadas?

10 de agosto de 2010 às 20:27  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

E quando, há uns anos, uma caterva deles teve a 'lata' de alegar "trabalho político" para ir ver a bola (a Sevilha, salvo erro)?
Com essa alegação, o dia foi-lhe pago normalmente, como se tivessem, de facto, trabalhado.
E já teremos tido muita sorte se eles não tiverem metido as despesas de viagem, alojamento e alimentação.

Reconheça-se que Jaime Gama tem tentado meter alguma ordem nessa capoeira. Mas deve haver coisas superiores à suas forças.

10 de agosto de 2010 às 20:40  
Blogger José Meireles Graça said...

Esta ideia de que os deputados são uma espécie de operários da linha de montagem das leis, com relógio de ponto, fiscais (os senhores jornalistas) e contramestre (o senhor Presidente da Assembleia) tem largo curso e aceitação pacífica, exactamente como muitas outras ideias erradas. Por mim, espero que os deputados que elegi saibam alguma coisa de alguma coisa, e estudem, ponderem e tratem do que sabem; no resto, que votem com o partido de cada qual, que é o normal. E esperaria também, mas espero sentado, que reagissem com indignação a esta maneira primária de ver o trabalho de legislação e fiscalização. Quem acha que é assim que se devem tratar os eleitos não merece melhor do que o que tem. Pelo que me toca, se fosse deputado, nem sequer aceitaria apresentar ao senhor Presidente, ou a quem quer que fosse, justificação de faltas; e quem não gostasse que pusesse na beirinha do prato.

11 de agosto de 2010 às 11:49  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Entre 1973 e 2001 trabalhei numa empresa de engenharia, onde alguns indivíduos (nomeadamente quadros técnicos) achavam que não tinham de cumprir horários, nem sequer tinham de dar satisfações a ninguém quando decidiam não aparecer na empresa.

Além do 'exemplo' que davam aos restantes trabalhadores (nomeadamente aos subordinados), essa posição "tontinha-aristocrática" criava outros problemas, pois tinham assuntos importantes em mãos, e o facto de nunca se saber quando (nem onde)estavam tinha as consequências que facilmente se imaginam.

O patrão, que não queria problemas, 'deixava andar' - mas tratava-se de uma empresa privada, o que não sucede com o Parlamento, onde os deputados são pagos pelos contribuintes - que têm o direito de saber como estão a trabalhar os seus "empregados".

Mas, acima de tudo isso, há um aspecto que muita gente ainda não percebeu (nem nunca vai perceber):
Trata-se da força do exemplo, muito especialmente em situações de crise como a actual.

11 de agosto de 2010 às 12:36  
Blogger Catarina said...

Ainda ontem li, a propósito da atitude de Steven Slater, (comissário de bordo da JetBlue) e stress no trabalho, que o absenteísmo no trabalho custa cerca de cem milhões de dólares nos EUA. Não sei se o stress sempre existiu no local de trabalho ou se é uma coisa moderna. O que é certo é que afecta a produtividade e a qualidade dos trabalhos prestados. Da mesma forma se não existir, em qualquer local de trabalho, uma ética profissional, uma responsabilidade por parte dos funcionários e um bom exemplo dos superiores onde o cumprimento de um horário não é através do “marcar o ponto”, todos sofrem as consequências desse facilitismo para não lhe chamar outra coisa.
O funcionalismo público nunca teve muito boa reputação e pelo que se lê parece que muito pouco melhorou. E esta é apenas uma das muitas diferenças entre um país onde pouco ou nada funciona e, consequentemente, pouco evolui e outro onde a produtividade é uma exigência sem, todavia, se viver num estado ditador. Muitas empresas estão a investir num bom ambiente de trabalho para os seus funcionários pois sai-lhes muito mais barato do que o absenteísmo laboral.
No caso específico deste post... pois, ninguém se surpreende e, pelos vistos, nem se tornando conhecimento público vai alterar a forma de trabalhar desses senhores e senhoras. Uma vergonha. Mais uma.

11 de agosto de 2010 às 15:41  
Blogger José Meireles Graça said...

O Parlamento não é uma empresa, nem seria desejável que o fosse, ainda que possível: uma empresa está organizada hieràrquicamente segundo um organograma para produzir um bem ou serviço, o Parlamento reúne um certo número de cidadãos depositários de uma escolha livre para realizar o bem comum consoante a visão que desse bem tem cada um dos partidos. Os parlamentares não são funcionários sob a direcção do Presidente (este é apenas um primus inter pares), são representantes do Povo que os elegeu. Isto significa que se os deputados de um certo grupo são pouco trabalhadores, cabe aos eleitores penalizá-los, se assim o entenderem. Por mim, não exijo aos deputados que elegi que estejam sempre no Plenário ou comissões a fingir que se interessam por assuntos para os quais não têm preparação nem interesse; antes pretendo que nas áreas que lhes estejam alocadas contribuam para a feitura de leis razoáveis. Por outro lado, não vejo por que razão os deputados haveriam de estar sempre segregados no casão deles como num degredo, para lhes podermos espiolhar, via jornalistas, os computadores e os telemóveis. Se os jornalistas quisessem ou fossem capazes de fazer um trabalho sério e útil, talvez pudessem levar a história adiante e saber por que razão houve cada uma das faltas; não é impossível, acredito, que boa parte delas fosse por motivos razoáveis. Esta notícia, tratada assim, vale o que vale: são cousas, como dizia o alfaiate de Eça de Queirós, em letra redonda.

11 de agosto de 2010 às 17:03  
Blogger Catarina said...

A última parte do meu comentário não foi colada e depois não me dei ao trabalho de o reescrever. Mas, basicamente, o que eu dizia era que aqueles que elegemos têm uma maior responsabilidade para desempenhar as suas funções e para velar pelos nossos interesses. Concordo, plenamente, com o que JMC disse. Acredito que algumas faltas são justificáveis; acredito que grande parte delas não têm justificação aceitável.

11 de agosto de 2010 às 19:01  

Enviar um comentário

<< Home